Cartas entre Cascudo e Vingt-Un (II) – Wilson Bezerra de Moura

Confesso que mantenho viva a esperança de uma nova geração que saiba tanto buscar como relembrar os fatos marcantes como construir nova fase de uma história que exista para  naturalizar novos conhecimentos.

Uma coisa é lembrar o que as gerações criaram, outra é criar determinismo histórico em que possa se firmar nos fatos responsáveis por tais acontecimentos. Uma história se constrói com o saber e determinismo de civilizações mortas que ligaram suas tradições.

No trajeto histórico das cartas traçadas entre Câmara Cascudo e Vingt-un Rosado, formou-se um pacto não só de recordação como de cobranças de novas ideias. Já em 1938, na VI correspondência, Câmara Cascudo se reporta ao ex-senador Rafael Fernandes Gurjão, pauferrense, nascido naquela época e influente político que contribuiu para a história econômica, industrial, política e social do Rio Grande do Norte.

Médico pela Universidade do Rio de Janeiro, no ano de 1912, dedicou-se mais à vida empresarial e política. Fazia parte da família Fernandes, que construiu um império industrial no ramo de algodão prensado, através das firmas Alfredo Fernandes e Companhia e S/A Mercantil Tertuliano Fernandes, por muitos anos em operação comercial e industrial de Mossoró, exportadores e importadores de algodão.

Numa carta a Vingt-un Rosado no ano de 1938, Câmara retrata a figura de Rafael Fernandes, o filho de Abílio Fernandes Gurjão e dona Maria Urcilina Fernandes Gurjão. Na vida política, deputado estadual na legislatura de 1918 a 1923, deputado federal em 1922, cargo ocupado na vaga do doutor Almeida Castro, até ser eleito governador do RN pela Assembleia Constituinte em 24 de outubro de 1935. Posteriormente, em 24 de novembro de 1937, nomeado interventor federal por razões de alternância de ordem política no país.

Ao que parece, entre os norte-rio-grandenses envolvidos com a política, o doutor Rafael Gurjão foi quem mais demorou na vida pública, tendo ingressado em 1918 e permanecendo até 1943, quando se encontrava à frente do Governo do Estado e espontaneamente pede exoneração do cargo.

Dados arquivo Raibrito.