Afinal, o homem interfere ou não no aquecimento global?

As discussões sobre o aquecimento global são cíclicas. Para que voltem ao centro das atenções, basta uma tempestade voraz, ou mesmo queimadas florestais em tempos secos, que venham a ganhar notoriedade, já é suficiente para que a temática volte à tona. Um pronunciamento de uma autoridade política nacional ou internacional que provoque alguma polêmica, ou chame a atenção de setores organizados da sociedade, também certamente reacende o debate em torno do assunto.

Neste sentido, torna-se salutar reeditar algumas informações a respeito das mudanças climáticas globais, de forma simples, objetiva e didática, apontando os argumentos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – Organização das Nações Unidas (IPCC/ONU) e os dos cientistas tidos como céticos no que se refere a esta temática. No final, diante das considerações das duas vertentes, emitiremos nossa opinião.

Na vertente dos céticos se destaca o Prof. Luiz Carlos Molion, da UFAL. Este pesquisador defende que a ação antrópica só possui efeitos locais, não globais. Segundo Molion, o CO2 não tem nada a ver com o aquecimento do planeta. Na sua visão, os países ricos querem frear o crescimento dos países emergentes para manter seu domínio sobre a economia mundial. Ou seja, a questão é meramente econômica.

Outro argumento dos céticos é com relação as cíclicas eras de resfriamento e aquecimento no planeta. Ou seja, entre as décadas de 40 e 70 aconteceu um resfriamento da Terra, e nesta época foi observado um grande crescimento das indústrias após a segunda guerra. Isto é usado como algo que contradiz o argumento do efeito estufa, já que neste período existiu um aumento exponencial das emissões de CO2 na atmosfera e, no entanto, aconteceu um resfriamento do planeta.

Existe, por fim, a questão das ilhas de calor. Sobre isto, foi produzida na UFCG uma tese do Prof. Joel Silva dos Santos. Através de medições, ele comprovou que as temperaturas na praia de Tambaú, em João Pessoa-PB, são mais elevadas que em outros locais no perímetro urbano, exatamente por conta desta questão das concentrações de construções (asfaltos, prédios etc), sem o devido planejamento arquitetônico e arbóreo.

Por sua vez, num sentido mais macro, o IPCC afirma que a concentração de dióxido de carbono, gás metano e óxido nitroso na atmosfera tem aumentado como fruto de atividades humanas desde 1750, e agora já ultrapassou em muito os valores antes da era industrial. Este preocupante crescimento destas emissões é um grave problema do insustentável sistema econômico mundial, que causa o efeito estufa; uma vez que o calor irradiado pelo sol e penetrado no planeta não volta para o espaço, causando sérios desequilíbrios no aumento da temperatura.

Outra grave afirmação do IPCC é que o aquecimento global não é um equívoco, sendo agora comprovado com as observações de aquecimento global do ar e das temperaturas dos mares; derretimento de gelo e neve em grande escala, e aumento global do nível dos oceanos. As previsões catastróficas do aumento dos oceanos são a grande preocupação das nações, sobretudo por conta das cidades criadas próximas do mar.

Já o Prof. José Goldemberg, USP, acredita que a rotação da Terra em relação ao sol, e a mudança de posição da sua órbita em torno daquele astro aumenta a temperatura do planeta. Mas, a magnitude da ação antrópica com emissões atmosféricas de alto impacto está provocando o aquecimento causador de eventos climáticos extremos, como furacões, chuvas torrenciais e secas extremas.

Estas vertentes usam metodologias científicas. Mas, o leigo não usa isto para ver que os mares estão quebrando os calçadões das praias. Contudo, quando uma polêmica envolve a vida, devem existir ponderações. Todos estão certos em defender os ciclos de resfriamento e de aquecimento no planeta. Mas, tentar literalmente tapar o sol com a peneira em torno das elevadas temperaturas médias, é a maior causa do ceticismo em torno dos céticos, perdoem pela redundância.

 

Prof. Auris Martins de Oliveira – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte