A quem interessa matar o sal potiguar?

 

Se para os mossoroenses é comum ver montanhas de sal no horizonte, passar por dentro de salinas entre Mossoró, Grossos e Areia Branca, ver armazéns de moagem por todos os lados, para as pessoas que não são daqui, chega a ser uma atração turística, de tão inusitado e bonito que é.

Mas muitos potiguares, incluindo os de nossa região, não têm a noção exata da importância do sal na vida econômica e social de nossa gente. São dezenas de milhares de pessoas empregadas direta e indiretamente em uma atividade que tem seus primeiros registros sobre produção em nossa região que remontam ao século XVI.

Antes de existirem as cidades, o sal já era uma atividade comercial por estes lados. Antes de existir leis ambientais, muitas famílias já tiravam do sal o seu sustento. Nossa região tem características geográficas que favorecem a produção de sal marinho, que ao longo dos anos se tornou um dos pilares de nossa economia.

O caro leitor já parou para pensar em quantos caminhões saem de Mossoró carregados de sal todos os dias? Centenas. Quantas milhões de toneladas são exportadas até para outros países através do Porto Ilha de Areia Branca? Quantos pais de família conseguem colocar comida na mesa graças ao trabalho ligado ao sal?

É comum quando falamos em sal pensarmos primeiro no consumo humano, mas é a indústria química o setor que mais consome o sal. E é justamente desse segmento que parte uma das maiores ameaças ao nosso ouro branco. É um setor poderoso, com muito dinheiro e que não pensa em outra coisa em não sei o lucro.

O Governo Federal revogou uma medida que protegia o sal marinho brasileiro. Suspendeu “medida antidumping definitiva aplicada … sobre as importações brasileiras de sal grosso … do Chile”. É o que diz a resolução da Câmara de Comércio Exterior. O Chile pratica dumping (vender produtos abaixo dos valores de mercado).

O Ministério Público Federal quer que 18 empresas desocupem agora as áreas que são utilizadas para a exploração de sal há muitas décadas. A ação do MPF é um desdobramento de uma ação do IBAMA, que há alguns anos realizou uma operação e multou as empresas em dezenas de milhões de reais.

Há ainda o Conselho de Defesa Econômica (CADE), que acusa empresários do setor por suposta formação de cartel nos preços cobrados. Isso também pode render pesadas multas e sanções, que sem dúvida inviabilizariam o setor salineiro de nosso estado, deixando sem emprego milhares de pessoas.

O poder econômico pode influenciar muita coisa. As grandes empresas que preferem comprar o sal chileno, vendido abaixo do preço de mercado, parecem estar conseguindo o que há muito tempo vêm tentando: matar a indústria salineira potiguar. A  bancada federal potiguar, a governadora e os prefeitos precisam abrir os braços para não sermos engolidos.

Afinal, a quem interessa matar a indústria salineira potiguar?