A luta entre o certo e o certo

Estou lendo um livro do escritor israelense Amós Oz, chamado Como Curar Um Fanático, e me chamou muito a atenção um ponto no livro. Não se trata, argumenta Oz, de uma luta maniqueísta entre certo e errado, mas de uma tragédia no sentido mais antigo e preciso do termo: uma batalha entre o certo e o certo.

Não adianta tapar o sol com a peneira. O sistema de saúde do País colapsou e não tem vaga nos hospitais para os doentes com covid19. Ontem o País bateu novo recorde de mortes, fato que vem acontecendo seguidamente há 3 semanas. Só ontem foram mais de 2.800 mortes por covid no País. O total já é de mais de 285 mil mortes no Brasil.

Outros países decretaram o tal do lockdown, ou fechamento total de tudo que não for essencial. De comércio à academias.

Quem defende a abertura de tudo tem seus argumentos, assim como quem defende o lockdown.

Eu defendi a medida no ano passado, quando estávamos no começo da pandemia, para dar tempo o sistema de saúde ser preparado pelas autoridades. Funcionou. Em Mossoró, por exemplo, ano passado não morreu ninguém por falta de leito.

Estamos convivendo com a pandemia no Brasil há um ano.

Nesse período teve muita aglomeração. Algumas provocadas pelo presidente da república e outras promovidas por TODOS os candidatos nas eleições. Como dizer à população para não aglomerar se TODA CLASSE POLÍTICA foi pra rua pedir voto?
Bom, na época os números estavam realmente em queda. Depois a pandemia voltou com força em todas as partes do mundo e por aqui não foi diferente. Com eleição ou sem eleição, acredito que teríamos a segunda onda, mas a eleição pesa muito pelo fator pedagógico, no exemplo.
Como um governador ou prefeito vai agora dizer pras pessoas não trabalharem se fizeram comícios há apenas 5 meses?
Também tivemos nesse período muita festa, até festas clandestinas, e todo tipo de aglomeração nas ruas, praias, serras.
A Governadora do RN e outros governadores do Brasil decretaram lockdown. Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Bahia, por exemplo, já estavam. Espírito Santo entrou hoje. No Rio Grande do Norte começamos no sábado.

Na maioria dos Estados, os governos deram incentivos, isentaram impostos, prorrogaram prazos. E no RN? Apenas um alinha de crédito para empréstimos para quem é do setor de turismo e bares e restaurantes. Empréstimo não é favor!

Bom, muitos clamam por apoio e não o fazem por esperteza, mas por necessidade, desespero até.

O auxílio emergencial será muito menor que no ano passado. Tanto na quantidade de pessoas atendidas como no valor dado pelo governo federal.

Cresce nas redes sociais a revolta e muitos pedem que se for para fazer lockdown, cortem também os salários dos políticos, dos juízes, dos promotores, servidores públicos. “É muito fácil decretar lockdown com a garantia do gordo salário na conta”, argumentam.

Em um ano, quantos novos leitos o Governo do Estado criou no RN? Publicou dezenas de decretos sobre a pandemia, mas foi incapaz de comprar um único tablet para alunos da rede pública!
E a prefeitura de Mossoró, que fechou um centro avançado de tratamento ao covid e fecha os postos de vacinação nos fins de semana?

Fato é que a situação é muito difícil para todos, mas, como vi esses dias no Instagram: não estamos todos no mesmo barco, mas no mesmo mar. Uns estão de iate de luxo, outros de barco seguro, jangada… Outros nem bote salva vidas têm.

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