A difícil renúncia – Francinaldo Rafael

Eis que um moço rico aproxima-se de Jesus e pergunta-Lhe o que deve fazer para adquirir a vida eterna. Recomendou-lhe o Mestre que seguisse os mandamentos. O jovem respondeu dizendo ser prática habitual. Perguntou então o que mais faltava fazer. Disse-lhe Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”.

Conforme narra o Espírito Amélia Rodrigues (Primícias do Reino – psicografia Divaldo Franco), as palavras doces e enérgicas de Jesus causaram-lhe inquietação. Vivia na riqueza, mas faltava-lhe algo. Podia segui-Lo, mas… Era jovem vigoroso, competidor nas corridas de bigas, que lhe davam honras, vaidades atendidas, bajulações. Queria primeiramente disputar as vitórias dos jogos. Ante a negativa do Mestre, foi-se embora tristonho.

Assim como o moço rico, diariamente travamos batalhas interiores. Dificilmente queremos abrir mão de situações que, se observadas mais atentamente, não nos acrescentam nada.

Diz o Espírito Joanna de Ângelis (Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda – psicografia Divaldo Franco)  que a superioridade do ego conduzindo o indivíduo faz com que esse se apegue as paixões primitivas, geradoras de ambições descabidas, interesses mesquinhos, incoerências. A necessidade de impor-se, de destacar-se no grupo social anula a capacidade de análise sensata, abrindo o campo mental e emocional para usufruir de gozos e lucros pessoais sempre. Por outro lado, comportamentos saudáveis conduziriam os indivíduos mais rapidamente a melhores caminhos: renunciar a insensatez, a falta de compreensão, ao pessimismo, nunca perdendo a oportunidade de ser aquele que serve sem cobrar nada em troca, que silencia ao mal, que perdoa sempre, que nunca cansa de confiar em Deus.

Quando Jesus propôs ao moço rico desfazer-se de todos os bens e segui-Lo, certamente não pretendeu estabelecer que fosse princípio único para cada criatura abrir mão do que possui e só assim conquistar a evolução. Quis mostrar que o apego aos bens materiais é obstáculo. O abuso é que torna as riquezas maléficas. Compete ao homem usá-las corretamente, trabalhando para a melhoria material do planeta. Não se pode esquecer que as vitórias de um dia, no outro passam.

Uma semana depois daquele encontro, diz Amélia Rodrigues, Cesaréia era a capital do ócio, do prazer. Ao som alegre das fanfarras, começavam as festas públicas. Aquele jovem impetuoso estava presente na competição de bigas, com seus cavalos magníficos. Ao sinal, competidores e seus carros saem em disparada. Numa manobra menos feliz, um carro vira e um corpo tomba na arena, despedaçado pelas patas velozes. Apesar da respiração agonizante, o corpo ensanguentado, as dores lancinantes, ele consegue fugir mentalmente da cena brutal e entre a névoa que lhe envolve os olhos parece ver Jesus e escuta-Lo: “Renuncia a ti mesmo, vem, segue-me”. Dois braços o envolvem veludosos e transparentes. O corpo já sem vida dá a impressão de sorrir.