Guerra comercial: China recebe líderes internacionais em busca de parceiros comerciais alternativos
A cidade de Tianjin, na China, sedia neste domingo (31) e segunda-feira (1º) o 25º encontro da Organização de Cooperação de Xangai (OCS), reunindo líderes de países da Ásia Central, além de figuras de peso como o presidente russo Vladimir Putin e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi. O evento ocorre em um momento estratégico para Pequim, que intensifica sua busca por novos parceiros comerciais diante das tarifas impostas pelos Estados Unidos.
Por RFI
Desde o início da guerra comercial desencadeada pelo presidente norte-americano Donald Trump, a China tenta driblar o impacto do aumento das taxas sobre seus produtos exportados para os Estados Unidos. Em resposta, Pequim tem redirecionado seus esforços para fortalecer laços econômicos com países da Ásia Central, região com a qual já mantém relações comerciais significativas. Em 2024, os fluxos comerciais entre a China e esses países somaram US$ 94 bilhões (mais de R$ 500 bilhões), superando os volumes registrados com a União Europeia e a própria Rússia.
A China também tem investido diretamente na região. Um exemplo é a instalação da maior fábrica da Byte, gigante chinesa de veículos elétricos, no Uzbequistão. Além disso, os países da Ásia Central são vistos como estratégicos para o fornecimento de metais usados na produção de baterias — setor no qual a China lidera globalmente.
Apesar do crescimento das relações, o comércio ainda é distribuído de forma desigual. A China ainda realiza dez vezes mais comércio com os países do Sudeste Asiático do que com os da Ásia Central. Ainda assim, Pequim tem ampliado sua presença diplomática e econômica na região, buscando consolidar novas rotas de cooperação.
Acompanhado de uma delegação anunciada há vários dias como numerosa, o presidente russo Vladimir Putin também participa do evento. Sua presença no encontro reforça a aliança sino-russa em meio às sanções ocidentais.
Durante a visita, o presidente russo participará das comemorações dos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial e se reunirá com líderes do Irã e da Turquia, além de Xi Jinping. O desfile de comemoração, que também contará com a presença do líder norte-coreano Kim Jong Un, exibirá equipamentos de última tecnologia das Forças Armadas chinesas.
Outro destaque do encontro que começa neste domingo é a presença do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que visita a China pela primeira vez em sete anos. A Índia, também alvo de tarifas impostas pelos Estados Unidos, busca diversificar seus parceiros comerciais e retomar o comércio fronteiriço com a China, interrompido há cinco anos. Apesar das tensões militares entre os dois países mais populosos do mundo, o gesto sinaliza uma tentativa de reaproximação estratégica.
Contrapeso à OTAN
O encontro da OCS reúne cerca de vinte chefes de Estado e representantes de organizações internacionais, representando quase metade da população mundial e uma parcela significativa do PIB global. A organização é frequentemente vista como um contrapeso à OTAN, especialmente em tempos de múltiplas crises envolvendo seus membros — da guerra na Ucrânia às disputas no Estreito de Taiwan.
Para a China, o evento é mais do que um fórum diplomático: é uma vitrine de sua capacidade de liderar novas coalizões econômicas e políticas em um mundo cada vez mais multipolar. Ao estreitar laços com países que compartilham interesses estratégicos, Pequim busca não apenas novos mercados, mas também reforçar sua posição como potência global diante das pressões ocidentais.