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Não canso de citar o livro A Era do Radicalismo, de Cass Sunstein. Escrito em 2010, quando ainda não tínhamos tanto engajamento em redes sociais e as fakenews ainda eram incipientes, o livro parecia antever o que estava por vir. Cada vez mais as pessoas se escoram em informações, muitas vezes incorretas, simplesmente para amparar suas opiniões.

“A fé de quem deseja ser enganado é inabalável”. Vi esta frase há alguns dias em um artigo sobre um determinado vídeo de uma empresa de investimentos, que se notabiliza pelo discurso da facilidade de ganhar milhões rapidamente na bolsa de valores. Fato é que a frase serve para o marido ou a esposa vítima de traição, o fiel da igreja, o fã de políticos e por aí vai.

No momento atual em que o mundo, e mais especialmente o Brasil, vive, dá vontade de entregar os pontos e chorar. Muitos preferem enfiar a cabeça no buraco ou usar antolhos, aqueles tampões usados em jumentos das carroças, para não ver a verdade que está ao lado, talvez por medo de se decepcionar com a verdade nua e crua. Esses parecem desejar ser enganados.

Algumas empresas, artistas, políticos ou publicitários já perceberam isso. Alguns mantém o tom elevado nos discursos exatamente para manter a torcida engajada. Oferecem soluções fáceis e vão mantendo o discurso. Alguns produtos terminam se envolvendo em polêmicas e precisam recuar para não perder espaço. Assim acontece com lideranças políticas no mundo inteiro.

Não pensem que o discurso do #LulaLivre ou que as coisas ditas por Jair Bolsonaro e seus filhos tem objetivos diferentes. Se são diferentes no conteúdo, são iguais no objetivo de manter a torcida unida, focada naquilo que muitas vezes não é o mais importante a ser discutido. No caso atual, por exemplo, está se discutindo coisas bem menos importantes do que política econômica, reforma da previdência, brigas políticas no Ministério da Educação e tantos outros pontos.

Vivo lamentando a falta de capacidade para o diálogo. Se você posta uma matéria da Folha de São Paulo, os defensores de um dos lados acusam-na de, pasmem, comunista e lulista. Logo a Folha. Pior, dizem o mesmo com a revista Veja. O conteúdo da reportagem fica esquecido e a guerra gira em torno do que acreditam ser posicionamento político dos veículos. Isso não é privilégio dos defensores do governo atual. No governo passado esses e outros veículos eram tratados como golpistas.

É incrível a falta de capacidade da sociedade para debater assuntos importantes. Tudo se transformou numa briga histérica e estéril de torcidas. Ou é um extremo ou o outro, mas sempre nos extremos. Uma pena.