Belchior: eu poderia ter dito, eu poderia ter feito

Será que existe algum sentimento mais triste do que esta sensação de lamentar não ter feito o que deveria ter sido feito, não ter dito aquilo que estava preso na garganta? Eu poderia… mas não fiz, não disse… que pena.

É claro que todos nós temos algum destes sentimentos guardados em algum lugar. Mas o tempo, como bem o disse Cazuza “não para”, já era, já foi. Eu deveria ter sentado na fileira da frente do último show de Belchior em Mossoró. Deveria ter gritado mais, assoviado mais.

Hoje, vendo o CD gentilmente cedido pela TCM, fico aqui puto. Só aparece Gustavo Luz e Raniele Alves. Acho que o pessoal achou que Raniele era eu, maldita (e bendita também) semelhança. Apareço de relance por trás de uma senhora tímida, que mal se manifesta no show, mas acho que ouço meu assovio em algum momento.

Eu deveria ter aceito o CD “Turnê Catarina” que agora finalmente vem à luz do mundo pelas mãos do poeta mossoroense, produtor cultural e amigo de Belchior, José Gomes Neto. Lá pelos idos de 2006, há poucos meses do fim da turnê, Zé me ofereceu o CD ainda inédito com a condição de que eu não dividisse com ninguém.

Lembrei da história do cara que naufraga com a Angelina Jolie e que com o passar dos tempos, sem serem socorridos, passam a ter um relacionamento. Um dia o moço aparece triste e Jolie então lhe pergunta a razão. Ele pede para ela colocar um bigode de palha de casca de coco e então pergunta: adivinha com quem estou namorando?

Era a mesma coisa. Como eu poderia ter “aquilo” em mãos e não passar para ninguém? De que me serviria? E como eu não iria compartilhar com o mestre Silvio Atanes, por exemplo, que tanto contribuiu com minha coleção, me mandando, inclusive, algumas pérolas “de grátis”? mas que eu deveria ter ficado, deveria sim.

Eu deveria ter dado o LP “Mote e Glosa” a Belchior quando ele me pediu, pois alegava não ter? aí pegou pesado. Não sei se fiz errado. Convenhamos que o mestre Belchior não era lá das pessoas mais organizadas do mundo. Como pode não ter seus próprios discos? Ele me disse: não tenho nem casa, como vou guardar estas coisas. Mas eu deveria ter lhe dito tantas coisas, não disse, agora já era.

Se ele tivesse me pedido socorro, eu poderia ter ajudado. Eu devia ter perguntado. Eu poderia, ele poderia… tudo poderia ser diferente.

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