500 anos da Reforma Protestante – 2

500 ANOS DA PRESENÇA PROTESTANTE NO MUNDO

– 31 de outubro de 1517 a 31 de outubro de 2017 –
por Jorge Henrique Barro

Parte 2 – A Reforma e Pós-Reforma

Certamente a Reforma Protestante do século XVI acontece por causa de todo esse processo preparatório. Desprezar esses eventos precursores é ignorar e desrespeitar o agir de Deus na história. Não importa para quem Deus dá uma visão, mas sim para que! Se a ênfase for no quem faz pode-se roubar a glória de Deus e passar a valorizar a pessoa e não os propósitos de Deus em usá-la.

A oposição ao falso ensinamento da Igreja Católica Romana não surgiu no século XVI, mas sim foi intensificada especialmente quando Lutero, um monge católico romano, desafiou a autoridade do papa e, em particular, a venda de indulgências. Ao invés de atender ao chamado a reformar-se, a Igreja Católica Romana procurou silenciar e abafar os Reformadores. Consequentemente, surgiram novas igrejas que nasceram da Reforma, formando os grandes ramos do Protestantismo mundial:

Os seguidores de Martinho Lutero (1483-1546) iniciaram a Igreja Luterana
Os seguidores de João Calvino (1509-1564) iniciaram a Igreja Reformada
Os seguidores de Menno Simon (1496-1561) iniciaram a Igreja Menonita e Anabatista
Os seguidores de John Knox (1513-1572) iniciaram a Igreja Presbiteriana na Escócia (usando a doutrina calvinista)
Os seguidores de Jacobus Arminius (1560-1609) iniciaram a Igreja Batista, tendo influencia também nos Metodistas e Congregacionais.

Na Inglaterra, as raízes da Reforma eram políticas e religiosas. O rei Henrique VIII (1491–1547), indignado com a recusa do Papa Clemente VII em conceder-lhe anulação de seu casamento, repudiou a autoridade papal e em 1534 estabeleceu a Igreja Anglicana tendo o rei como chefe espiritual da igreja. Logo após, buscando uma reforma mais efetiva e rigorosa, surge o movimento Puritano, propondo reformar outros aspectos não plenamente alcançados pela Igreja Anglicana, tais como, uma vida cristã de mais santidade e espiritualidade mais regrada.

No coração da Reforma Protestante, quatro questões básicas surgiram:
1. Como é que uma pessoa é salva?
2. Onde está a autoridade religiosa?
3. O que é a igreja?

Ao responder a essas perguntas, os Reformadores Protestantes desenvolveram o que seria conhecido como Cinco Solas (sola sendo a palavra latina para somente). Estes cinco pontos essenciais da doutrina bíblica separam claramente o protestantismo do catolicismo romano. Os Reformadores resistiram às exigências impostas a eles para estabelecer essas doutrinas, até diante da morte.

A Pós-Reforma

Outro grupo de reformadores (embora não totalmente reconhecido como parte dos Reformadores Magisteriais), chamados Anabatistas, insistiu que o batismo fosse realizado não em crianças, mas em adultos que professassem sua fé em Jesus.
Menno Simons (nascido na Holanda, em Witmarsum – 1496-1561) foi um teólogo originário da Frísia, ordenado padre católico em março de 1524. É considerado um dos reformadores radicais ligado aos anabatistas. Simons se converteu ao Anabatismo em 1536 e sua influência sobre o movimento foi tão forte que o grupo anabatista no norte da Europa foi chamado de Menonita (por causa de seu nome Menno).

Os anabatistas permaneceram um fenômeno marginal no século XVI, mas sobreviveram, apesar da perseguição feroz. Anabatista que significa “um que é rebatizado”, do grego anabaptizein = ana – de novo / baptizein = batizar, ou seja, “batizar novamente”. O batismo era praticado nos infantes. Passaram a pregar que o batismo deveria ser exercido apenas em adultos crentes. Daí seus inimigos passaram a chama-los de “anabatistas” – os “re-batizadores”. Ser rotulado de anabaptista não era algo seguro. De fato, por um momento foi uma sentença de morte segura.

As diferenças entre os Anabatistas e os chamados Reformadores Magisteriais vão de qualquer sinal externo, como o batismo. Queriam a restituição da igreja verdadeira em um modelo apostólico. Os anabatistas consideravam as igrejas estatais além da reforma.
Consideraram a confissão pública de pecado e fé, selada pelo batismo adulto, como sendo o único batismo apropriado. Após o reformador suíço Huldrych Zwingli, eles consideraram que os bebês não eram puníveis com o pecado até que tomem consciência do bem e do mal e podem exercer sua própria vontade, arrepender-se e aceitar o batismo.

Tal crença lhes conferiu o título de hereges e subversivos por todos. Assim, os anabatistas foram acusados de crime religioso e civil. As cortes eclesiásticas e as civis tinham jurisdição para punir quem se atrevesse a repetir o batismo, e também a quem se negasse a apresentar os filhos pequenos para receber o batismo.

Tal tema – o batismo – está intrinsicamente relacionado à questão da Igreja versus Estado. A separação da Igreja e Estado foi um dos temas centrais na visão anabatista. Por que os dois (batismo e Igreja/Estado) estão relacionados? Porque todas as pessoas nascidas na Igreja/Estado eram automaticamente consideradas cristãs.

Como os Anabatistas defendiam a separação da Igreja/Estado, não aceitavam a participação na igreja como sendo uma imposição estatal, mas sim uma decisão pessoal para que uma pessoa fizesse parte da Igreja (separada do Estado) e, havendo tal decisão pessoal, deveria ser rebatizada. Isso é fruto de uma compreensão de que a Igreja era uma comunidade voluntária e não fruto da imposição estatal. Especialmente (não exclusivamente) por isso que o batismo infantil foi rechaçado pelos anabatistas. Isso provocou consequências drásticas fruto da indignação e revolta geral de católicos e protestantes. Quais consequências?

Foram condenados a pena de morte em 1525, especialmente nas regiões católicas da Suíça. Para se ter uma ideia, a Confissão de Augsburgo não incluía os anabatistas aos reformadores, marginalizando-os à Reforma. O Conselho do governo de Zurique decretou também a pena de morte, em 1526, para quem rebatizasse qualquer pessoa. Isso foi replicando nos territórios protestantes na Suíça, passando a ter a mesma postura. Na Alemanha eram aplicadas aos anabatistas as mesmas leis contra os hereges.

Em 1528, Carlos V decretou a pena de morte aos anabatistas – baseada numa antiga lei romana criada para combater o Donatismo (os donatistas eram rigorosos, sustentavam que a Igreja não devia perdoar e admitir pecadores, e que os sacramentos, como o batismo, administrados pelos traditores – cristãos que negaram sua fé durante a perseguição de Diocleciano em 303 d.C.-305 d.C. e posteriormente foram perdoados e readmitidos na Igreja – eram inválidos. A Dieta de Espira de 1529, que condenava a todos os chamados “protestantes” incluía os anabatistas.

Mas, isso não intimidou os anabatistas que, mesmo tendo sido considerados membros de um movimento marginal ou radical da Reforma Protestante, geraram os movimentos dos Batistas, Menonitas e Quakers. Fala-se inclusive que, posteriormente, em virtude de tanta perseguição sofrida, parte do movimento anabatista ganhou outros formatos e tornou-se mais radical e não pacifista, empunhando as armas e desenvolvendo revoltas populares e armadas violentas.