2021 e uma crônica quase obituário

E 2021 começou da mesma forma que findou 2020. Carregado de dissabores, desmontando a farsa dos fogos e qualquer sinal de mudança de por causa de um segundo a mais ou a menos no relógio. O tempo muda o tempo inteiro, e como na música de Lulu “nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia”.

O vírus e outras mazelas bateram com força neste início de ano em minha porta. Pessoas queridas partiram mais cedo do que o previsto e senti nos primeiros dias deste janeiro a dor que não havia vivido em todo o ano passado. As palavras de ordem são: meus pêsames”.

Perdi Moisés Martins, amigo das antigas, desde os tempos de Hotel Imperial, uma amizade que ultrapassou o livro de pontos e seguiu por toda vida, só não imaginava que a sua vida fosse interrompida tão cedo. Antes que me perguntem, não foi Covid. Seu coração grande não resistiu a um pequeno conserto para desobstruir as veias tão carregadas de sentimentos.

Poucos dias depois, senti a dor de um amigo ao perder sua filha querida, porque como disse o poeta Sérgio Carvalho, também ao se solidarizar em dor, tendo também perdido seu pai: “todas as dores são iguais”. Foi-se num acidente trágico, a filha mais nova do poeta Nildo da Pedra Branca, um irmão de versos, agora alquebrado por esta tragédia.

Quando me preparava para visitar Nildo, de sopetão, um soco no estômago. A mais dolorida das dores destes dias. Minha tia Irizete Urbano, uma figura humana maravilhosa foi colhida por este trem desenfreado chamado Covid-19. Todos acreditávamos em sua recuperação pela força que tinha, pela vivacidade que carregava em si, pela alma bondosa… nos enganamos.

Tia era uma âncora para a maioria dos irmãos. Adotiva, tinha tanto amor envolvido de ambas as partes, que ninguém sentia qualquer diferença, mas não havia mesmo. Minha mãe, dona Marinete, demorará a recuperar-se deste baque, se é que conseguirá. Para todos nós, doerá por muito tempo.

Dois dias depois, tia Luzia, esposa de tio Expedito, levado por Deus há menos de um ano, também resolveu nos deixar. Deixar tantas dores e ir ao encontro do Urbano “mais bonito”, o homem da faca, o dançador de forró.

Nem saímos de janeiro. O ano continua. Se tem alguma coisa que pelo a Deus é: a vacina, sem politização. Para que possamos restaurar um pouco que seja de nossas esperanças por dias melhores. Que acalme nossos corações para aguentar tanta pancada, se elas forem inevitáveis.

 

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