UMA HISTÓRIA CONSUMIDA PELAS CHAMAS – Wilson Bezerra de Moura

Não havendo compromisso com os fatos, estes podem se perder. Em minhas pesquisas encontrei um artigo escrito pela jornalista e professora Maria Lúcia Gomes Meirelles, que, por coincidência, no exato momento em que se deu a céu aberto o trágico incêndio no Museu Nacional, que abrigava os significativos documentos da nossa história, que jamais será reconstruída. Daí acabou nossa biografia, porque deixamos de existir ao espelho de eventos comprobatórios que garantiam a existência de um povo.

A incineração acontecida e relatada pela jornalista Maria Lúcia Meirelles se deu por ocasião do mandato do presidente provisório marechal Deodoro da Fonseca. Enquanto isso, as medidas tomadas pelo jurista Rui Barbosa, segundo ela, deixaram um branco na história da raça negra, o que significou as resoluções na época, expedidas em 14 de dezembro de 1890, relativas à incineração dos documentos que existiam no Ministério da Fazenda à ocasião ministro o Rui Barbosa, embora o acontecido tenha sido na gestão seguinte, mas ele que o autorizou.

O que aconteceu de fato foi a incineração dos registros sobre os negros da época escravista. Todos os apontamentos que demarcaram não só a presença como a participação destes na transformação social brasileira foram eliminados no governo provisório da Velha República, na gestão do ministro Tristão de Alencar, as normas determinadas por este alegando que a cremação serviria para apagar uma história negra da nação. Era obrigada a destruição desse arquivo para não deixar vestígio para honra da Pátria e como homenagem aos deveres de solidariedade e fraternidade à grande massa de cidadãos.

Fico eu a pensar: será que na atualidade o Museu Nacional não guardava documentos comprometidos com a causa libertária, fraterna e solidária aos ditames de uma sociedade que sobre o irrestrito transtorno político e social mantinha um arquivo comprometido? Talvez seja necessária uma investigação responsável sobre o caso.

Naqueles idos foram incinerados mais de três mil livros correspondentes aos séculos XVII a XX, além de catálogos, índices, documentação que facilitava a pesquisa de estudiosos.

É como bem disse a jornalista Lúcia Meirelles: documentação destruída é história perdida. Mais uma vez não podemos perder nossa história, que é feita justamente com documentos escritos que caracterizam a essência de uma existência.