Três…dois…um… O fim de uma era…o começo de outra

Abril de 1994. O então estudante de Agronomia Thiago Pedrosa liga e convida: Venha aqui em casa. Vou receber uma fotografia no computador. Thiago era um daqueles amigos da safra dos privilegiados que presenciaram os primeiros passos da internet de forma mais intensa. Filho da maior autoridade em melão do mundo, tinha internet em casa a partir de um servidor exclusivo para atender pesquisadores da então Esam. Atendi o convite e fui. Ao chegar foi preciso esperar um bom tempo até que a partir do ZipMail, o primeiro e-mail 100% brasileiro, nos deparassemos com o momento mágico. A foto era de Wise Primo, uma amiga do IRC, espécie de WhatsApp de computador da “era das cavernas” que morava em Fortaleza, e acabara de ganhar um moderníssimo e raro scanner. Meu Deus. Como isso funciona? Sem carteiro, sem papel, apenas com a ajuda de fios e cabos uma fotografia tinha viajado de Fortaleza a Mossoró em poucos minutos. Hoje este relato parece bobagem. Mas ali nascia uma nova era. Maio de 1999, acadêmico de Adminitraçao de Empresas, acompanhei uma palestra onde o tema era a parceria entre a Servpro o Uol e o jornal O Mossoroense que passava a disponibilizar o conteúdo do jornal na Internet para todo o mundo. Era tudo muito novo. Tão novo que no Congresso Nacional de Empresas Juniores, realizado em Recife, dois anos antes, especialista da Microsoft alertava. “No futuro a Internet fará parte da vida de todos, estará presente em tudo. Teremos uma quantidade de informações tão gigantesca que o desafio será como encontrar o que você deseja. O desafio do futuro será obter referência. E ele estava certo. Tivemos um boom produtivo de conteúdo para a grande rede, e com ele surgiu o Google. A ajuda na busca passou a render navegações em mares profundos com muitas opções, mas na maioria das vezes faltavam referências. Onde buscá-las? Janeiro de 2001. Já funcionário d’O Mossoroense, assumi o desafio de expandir o jornal pelo Rio Grande do Norte, e de 8 municípios saltamos para 83. Como companheiros de viagem: sonhos, sede por novidades e uma pequena máquina digital. Na primeira viagem com minha companheira de estrada, voltei orgulhoso pra casa: “Mãe veja as fotos que tirei na viagem”.

Dislumbrada, mas com um certo ar de decepção ela respondeu com uma pergunta: “Não tem em papel?” Respondi que não. Era pra ver na tela de um computador. O sorriso não foi suficiente para convencer que aquela maquininha era útil. O tempo passou, moderna, minha mãe passou a condição de usuária ativa do Orkut. Com a rede social, acompanhava a vida de familiares e amigos espalhados pelo Brasil quando a presenteei com uma foto impressa com o registro da solenidade onde recebi o título de cidadão caraubense. O momento era outro, a reação também. “Não tem no computador? Como vou colocar no Orkut?” Os tempos mudam. Nesta época meu maior desafio era montar uma logística de distribuiçao que garantisse a circulação do jornal em Natal e em Venha-Ver, cidades que fazem extremo em nosso mapa. Levar dois jornais diriamente a Viçosa, menor cidade do RN, custava caro, mas não existia internet na maioria das cidades. Não restava outra alternativa. O tempo passou e com ele eliminamos nossa maior barreira.

Hoje o jornal chega a cada recanto do Estado a milhares de leitores com custo infinitamente menor.

Que saudades do disco de vinil GNR Lies, do Guns n´ Roses, da fita TDK de 90 minutos com o Loco Live do Ramones. Que saudades do CD com a coletânea do Faith no More. O som do meu carro só pega pendrive. A solução é o Spotify no smartphone. Não dá pra parar. O mundo não para. É preciso evoluir. Meu pai compra sabonete Senador pelo dobro do preço de Dove. É o preço para sentir o “cheiro da juventude”. E se a linha de produção acabar? Buscar novas alternativas ou adotar o cheiro da decadência?

Sou jornalista da “nova geração”. Fiz curso de datilografia na década de 1990, mas iniciei como jornalista num teclado de computador.

Minha despedida do impresso foi produzida na tela touch screm de um smartphone. Como fugir de um futuro que já chegou?

A repercussão deste momento começou a surgir 24h antes da produção desta despedida. Em meio a tantas opiniões, algumas que beiram o ridículo. Nossos pensadores pararam no tempo. Nossa sociedade tão moderna e tecnológica está presa a uma âncora que puxa para o fundo de um “mar de mofo”. Nossa universidade não tem cumprido seu papel a contento. É preciso regionalizar nossas pesquisas, analisar problemas, buscar soluções. Potencializar nossos talentos. Estamos formando profissionais para a academia, pessoas que ainda têm como sonho de vida trabalhar na Rede Globo de televisão. Estamos formando assessores de imprensa e similares para trabalhar aonde? Com o quê?. Estamos formando jornalistas? É preciso reinventar a roda. É preciso formar pensadores, críticos e práticos. Pessoas que entendam do passado vivam o presente e projetem o futuro. O que virá pela frente? Só o tempo dirá. O que pensava Jeremias da Rocha ao criar um jornal para defender seus ideais em 1872. Imaginaria ele que seu feito duraria várias etapas até alcançar 143 anos? O especialista da Microsoft acertou em sua projeção de futuro. O Google passou à condição de referência em pesquisa e se transformou numa das maiores empresas do mundo. Mas não vivemos apenas de pesquisa. É preciso fontes e outras referências no mundo real e virtual. Que O Mossoroense viva hoje um momento de renovação e continue a desempenhar seu papel de referência no jornalismo potiguar. Este é o sentimento que deve imperar. O surgimento de uma nova era.