Sócrates, vida e morte em cordel

Medeiros Braga.

“Discutiam, pois, o Estado
Ideal pra se viver,
A moral, virtudes, ética 
Que deviam todos ter,
A justiça e a ousadia
Da vital democracia
Pra pensar, falar, fazer.”
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Mesmo condenado injustamente, as últimas estrofes do cordel tratam da recusa de Sócrates em escapar da punição. 
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SÓCRATES-Vida e Morte em Cordel
Há dois milênios e meio
Pela Antiga Grécia havia
Um pensador justo, humano,
Da maior sabedoria,
Afluíam dos seus lábios
Só ensinamentos sábios
Da grande filosofia.
Era Sócrates o seu nome
Nascido na velha Atenas,
Em quatrocentos e setenta,
Antes de Cristo, ele encena.
Cuidou só em dialogar
Com o povo, para achar
A saída mais amena.
Porém, ele antes disso
Foi patriota e guerreiro,
Combateu em Potideia,
Foi de todos bom parceiro,
Incansável, sempre atento,
Não sofreu um ferimento
E socorreu companheiros.
Jovem, já havia lido
A Ilíada e A Odisseia,
Obras de Homero narradas
Em estilo de epopeia,
Resultando sua leitura
Em saber, em mais cultura
Pra visão ampla da ideia.
Antes dele os filósofos
Estudavam a natureza:
“Terra, água, fogo e ar”
Estavam sempre na mesa,
Porém, Sócrates revertia
Pondo o homem que devia
No centro de tal grandeza.
O primeiro pré-socrático
Foi o Tales de Mileto
Via na água o princípio
Das coisas, por natureza,
Dizia com certa prédica 
Que a pedra magnética
Tinha alma, com certeza.
Depois veio Anaximandro, 
Tido o pai da astronomia,
Cuidar do processo cósmico
Era a sua primazia,
Vindo a criar, como tal,
Uma lei universal
Com sua filosofia.
O filósofo Anaxímenes 
Depois de muito estudar
Demonstrando segurança
No que podia anotar
Pôs ali na sua lousa
Que a razão de todas coisas
Tem seu princípio no ar.
Já para Heráclito de Éfeso,
Outro grande pensador,
Tudo no mundo é formado
Por partículas de calor,
Sendo o fogo, com razão,
As causas da formação
Que constitui seu teor.
Porém, para o filósofo
Empédocles de Agrigento
Terra, água, fogo e ar, 
Todos esses elementos
Eram, sim, por seu valor
O princípio gerador
De todo congraçamento.
No entanto, o maior marco
Já na ciência fincado,
Foi do filósofo Demócrito 
Por haver ele estudado
E descoberto, coerente,
Que de átomo, tão-somente,
Tudo no mundo é formado.
E Sócrates diante disso,
Rompeu com a tradição
Trouxe a filosofia
Para o centro da questão, 
Com o princípio da moral,
Imprescindível, vital,
Ao Estado e cidadão.
Depois de muitos estudos
E bem mais reflexão,
Ele viu que o Estado
Só teria evolução
Quando todos, em comum,
Viessem a ser, um por um, 
Com virtude, cidadão.
Convicto desse conceito
Achou, então, que devia
Servir à pátria formando
Com muita sabedoria,
Bons cidadãos; educados,
Muito honestos, temperados
À luz da filosofia.
Dialogando nas praças,
Nos ginásios e mercados
Ia seu público aumentando
De jovens abnegados
Com vontade de beber
Nessa fonte de saber
Conhecimentos primados.
Sua forma mais comum
Para a busca do saber
Era, sempre, a “indução”
Onde tentava envolver
Todo aluno no direito
De buscar certo conceito
E por si próprio aprender.
Sócrates não ensinava…
Com seu método de indução
Ele só questionava,
Só fazia indagação
Para ter, conforme a meta,
A alternativa correta
Definida em discussão.
“Parturação Das Ideias”, 
Mas, “Maiêutica”se chamava.
Ambas traziam ao mundo
O que mais se precisava:
As ideias e a criança
Sempre com a esperança
Para quem necessitava.
Multiplicando perguntas,
Testando comparações,
Estudando as diferenças,
Fazendo eliminações,
Eram as coisas clareadas
Pra daí serem fechadas
Importantes conclusões.
Considerava importante,
Do povo, a democracia,
Mas, a moral externada
Nos diálogos todo dia
Era, sem atenuante,
A parte mais importante
Da sua filosofia.
Para Sócrates, a moral
Era o espelho do saber,
A ciência um sinônimo
Da virtude vinha a ser,
Com elas a se achar
Vinha após filosofar
Nas regras do bom viver.
E mostrando o quanto havia
Para aprender uma grei;
Ou talvez para medir
A ignorância de um rei,
Desprovido de vaidade,
Proclamava, com humildade,
Que “eu só sei que nada sei”.
Descobrindo o melhor tipo
De governo e o seu porquê
Foi fazendo os inimigos
Dentro e fora do poder,
Os que, impondo a vontade,
Procuravam sua verdade
Eterna, prevalecer.
Considerava importante,
Do povo, a democracia,
Mas, a moral externada
Nos diálogos todo dia
Era, sem atenuante,
A parte mais importante
Da sua filosofia.
Assim mostrava o Estado
Ideal pra se viver,
A moral, virtudes, ética 
Que se deve conhecer,
A justiça e a ousadia
De total democracia
De pensar, falar, fazer.
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Convidado a evadir-se
Recusou-se de se ir,
Quer injusta ou não a lei
Tinha a pena que cumprir,
Já julgado e condenado
O bom exemplo a ser dado
Era acatar, não fugir.
E mostrava afeto às leis
E exemplo de cidadão,
Como outros que tiveram
A mesma condenação,
Ao agir, justo e honesto,
Sem resistência, protesto,
Diante da punição.
Ainda amigos tentaram
Lhe salvar da punição,
Foi um plano arquitetado
Sem riscos, com precisão,
Tendo pra isso contado
Com apoio declarado
Dentro da própria prisão.
Mas, ele não aceitou
Fugir da sua sentença
Como já teria dito
Convicto, com tanta crença,
Que a lei pra termos fé
Precisa vir pelo pé
Pra todos, sem diferença.
Ele que fora julgado
Conforme a lei de Atenas;
Que fora sentenciado
Como outros em tais cenas,
Via como um sacrilégio
Aceitar um privilégio
De não ter as mesmas penas.
Assim, da sua sentença
Não podia recusar,
Como outros que levaram
Também, tinha que levar,
E no fim de toda luta
Já condenado ao cicuta
Não havia de escapar.
De morrer por sua causa
Não fazia já questão,
Por isso, que recusava
Clemência, bajulação,
Pagar uma multa apenas
Ou morar fora de Atenas
Desterrado, em solidão.
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E por aí segue o cordel de 80 estrofes que narra uma história exemplar. Sócrates-Vida e Morte.