Para 37% dos brasileiros, as vítimas são culpadas pelos estupros

Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, realizada pelo Instituto Datafolha, mostrou que 37% dos brasileiros atribui à vítima a culpa por ter sido estuprada e concordam com a frase “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas” (afirmação que contou com o apoio de 42% dos homens). No levantamento, outros 30% dos entrevistados afirmaram que a “mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”.

“Este pensamento vem de um discurso socialmente construído, que considera que se a mulher é vítima de alguma agressão sexual é porque de alguma forma provocou esta situação, seja por usar roupas curtas ou andar sozinha na rua em certos locais considerados inapropriados. Com isso, há ainda a ideia do homem que não consegue controlar seus ‘instintos naturais’”, explica a análise dos pesquisadores.

A pesquisa ouviu 3.625 pessoas em 217 cidades do Brasil no período de 1º a 5 de agosto. Entre os entrevistados, 65% afirmou sentir medo de ser vítima de violência sexual, número que salta para 90% quando são consideradas apenas as respostas das mulheres da região Nordeste.

Para 44% dos brasileiros com 60 anos ou mais, uma mulher que use roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada. Já na faixa etária dos 16 aos 34 anos, o percentual dos que concordam com esta afirmação é de 23%.

Outro fator de influência em relação ao ato de culpar a vítima é o grau de escolaridade dos entrevistados: das pessoas que cursaram o apenas ensino fundamental, 47% acreditam que mulheres que não se dão ao respeito são estupradas. Entre aqueles que cursaram o ensino superior, 19% acreditam que cabe às mulheres evitar o estupro “se dando ao respeito”.

Vítimas de estupro ainda enfrentam barreiras no registro de ocorrência

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, composto por 172 associados, incluindo pesquisadores da iniciativa pública e privada, e profissionais da segurança pública, emitiu documento apontando dificuldades que as vítimas de estupro enfrentam no país. As barreiras vão desde a falta de tratamento e assistência inicial à vítima e até o próprio processo de registro de ocorrência nas delegacias.

“Nem sempre as vítimas apresentam marcas físicas da violência ou perturbação emocional, ou têm um relato absolutamente coerente, mas isso não quer dizer que o crime não aconteceu. Levar a sério uma denúncia de estupro não significa condenar sumariamente o suspeito, mas acolher a vítima, escutá-la, dar credibilidade a seu relato e buscar, por meio de investigação, a devida elucidação do caso”, afirmou o Fórum em documento.