ONG cobra restauração de duas das principais bibliotecas do RN

Após seis anos fechada, a Biblioteca Câmara Cascudo (BCC), considerada a “biblioteca mãe” do Rio Grande do Norte, teve a conclusão da obra de reestruturação adiada mais uma vez. O último prazo de reabertura dado pela Fundação José Augusto (FJA) seria no fim de abril, mas até o momento a obra orçada em R$ 1,6 milhões ainda não foi entregue. O acervo de mais de 100 mil livros está armazenado na Cidade da Criança.

Outra importante biblioteca potiguar que está em condições precárias é a Rômulo Wanderley, em Parnamirim, que foi deslocada para uma sala do Teatro Municipal e funciona sem internet, refrigeração ou qualquer tipo de automação.

Em busca de soluções para a situação, o Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE) vai solicitar visitas às instalações das duas bibliotecas, ainda que a BCC esteja em obras, com o objetivo de cobrar respostas.

“É inconcebível que a capital tenha uma biblioteca que é referência fechada há anos, impossibilitando as pessoas de usufruírem desse bem cultural. Em outros estados, já se constroem bibliotecas-parques, ampliando o conceito, e aqui a gente sequer consegue reabrir uma que já existia. Além disso, corremos o risco de perda de acervo de obras raras, inclusive com livros que não têm mais reedições”, denuncia Miriam Dantas, educadora e membro do IDE.

Segundo a organização não-governamental, que atua na defesa do acesso ao livro no Estado, a situação desses equipamentos culturais está na contramão das ações de fomento à leitura e configuram cenário grave de descaso com o fortalecimento da educação e cultura no Estado.

Em abril, o IDE lançou, em parceria com o Instituto C&A, a Rede Potiguar de Bibliotecas, cuja meta inicial é cadastrar todas as bibliotecas do RN e interliga-las com ações unificadas como concursos, gestão de acervos e banco de dados.

“É uma iniciativa inovadora e que vai proporcionar mais conhecimento para que a população acompanhe as bibliotecas que dispõe e a possibilidade de exercer o controle social. As pessoas vão poder questionar ‘e a minha cidade, não tem? Como estão as bibliotecas escolares que nós temos, precisam melhorar?’”, explica Miriam Dantas.

A recuperação da BCC só teve início em 2017, embora esteja fechada desde 2012. Segundo a FJA, a demora na ação se devia à falta de verba do Governo do Estado para esse fim, algo que só foi resolvido com o Governo Cidadão – parceria do executivo estadual com o Banco Mundial. De R$ 1,6 milhões, R$ 918,4 mil são destinados à obra e o restante à compra de mobiliário e equipamentos eletrônicos.

Em relação à Biblioteca de Parnamirim, que já ganhou vários prêmios literários e tem projeto de leitura consolidado, o descaso atual surpreendeu negativamente. “Fomos surpreendidas por se tratar de um município que tem evoluído em relação à atenção à cultura e comete essa falha de instalar sua tão importante biblioteca em local inadequado”, lamenta a educadora.

Política Nacional de Leitura e Escrita

Enquanto duas das principais bibliotecas do Rio Grande do Norte estão com estruturas fechada, no caso da Biblioteca Câmara Cascudo, e inadequada, no caso da Rômulo Wanderley, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou, nessa quarta-feira (9), o projeto de lei que cria a Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE). De autoria da senadora Fátima Bezerra (PT-RN), o projeto visa diminuir as desigualdades no acesso à leitura, algo que está em consonância com a criação da Rede Potiguar de Bibliotecas proposta pelo IDE. O PL institui uma política permanente de promoção e de universalização do direito ao acesso ao livro, à leitura, à escrita, à literatura e às bibliotecas, em todo o país.