O Fantasma de Licânia (Parte III) – Clauder Arcanjo

Para Aíla Almeida

Arrastado pelo seu irmão Zequinha Coletor, Gerardo Arcanjo deixa, cabisbaixo, o recinto pela porta dos fundos; enquanto a guerra civil chega, por definitivo, ao palco do Alcione Clube.

Desta forma, e sob o manto da batalha, foi que eu tive que concluir a parte anterior desta noveleta, que já se espicha demais para o meu gosto de rematado provinciano.

E eu lá sabia aonde ia me levar esse tal Fantasma de Licânia, dileto leitor?!

Apesar de tudo, aqui estou; mais uma vez para dar conta do mister de ficcionista.

Muito bem, muito bem. Confesso que ando fugindo de tal compromisso com a posteridade (sim, escrevo para me fazer eterno. E quem não o faz?); um fastio me invade a alma, me sobe ao cocuruto… e a preguiça toma foros de “imperativo categórico”.

“Lá vem você com suas inserções com laivos de pretensa filosofia!”

Quem falou isto?! Você, amigo leitor? Ou algum rabugento de plantão resolveu me importunar?! Olha que eu, hoje, não ando para muitos amigos!

Ora, ora! Onde já se (ou)viu?!… Comigo não!

 

***

 

“Vamos, deixe de arrodeio e tire por dentro. Aqui estamos nós, os seus personagens, a lhe esperar. Enquanto você, Clauder Arcanjo, fica neste puxa-encolhe dos diachos! Ou escreva, ou largue a pena! Ou, como dizia o velho Baltazar: “Ou caga, ou desocupa a moita!”.

Puxa vida! O uso de verbo tão chulo — “cagar” — me reforçou ainda mais a minha prisão de ventre literária. Todavia, farei ainda mais força e soltarei as rédeas deste cavalo letrado.

“Avante, Cervantes das Ribeiras do Acaraú!”

Deixem de gozar com a minha cara, mundiça! Quem abraça o sacerdócio da literatura, creio, merece, no mínimo, a distinção do respeito.

Se ganho tempo e encho de linguiça esta página?! Sim, concordo com vocês. Meto as palavras, umas enfiadas nas outras, ocupo o meu espaço, cumpro com a minha responsabilidade… e vou ganhando tempo para ver se algo de interessante me (in)surge na cabeçorra, semana que entra.

Eu continuo a escrever sem saber aonde esta joça vai aportar. Sabe de uma coisa?!, vou parar por aqui, apagar tudo, ligar para o editor e me desculpar, alegando que houve um aborto fantasmal. Ou melhor: o fantasma morreu no parto, prematuro.

E fantasma morre? Na literatura, e em especial em Licânia, morre, nasce, volta a morrer, ressuscita, reproduz, induz, conduz… Enfim, Macondo é pinto comparado com Licânia. Aqui, homem casa com vaca; do conluio, nasce uma jaca, esta põe asas e vai dar no colo da última bailarina feminina… pois, em Licânia, os homens estão, também, desistindo do machismo, usando saia e…

Epa, epa!… Lá vêm facas e canivetes para cima de mim. Vou correr daqui, antes que eu vire o novo fantasma de Licânia.

Humm, espere um minuto! Algo me é soprado aos ouvidos.

— Sim, continue; interessante. Se eu tenho condição de dar forma vibrante a tal aventura? Não sei se não tentar. Prometo que darei, de mim, o melhor.

O que foi que me sopraram?!

Calma, paciência, tranquilizem-se. No próximo capítulo, eu contarei. Por hoje, é só, e… tenho dito.

Olha, olha, não vão me faltar com o respeito!

 

***

 

Encerro aqui. Se o fantasma ressuscitar, estarei aqui na semana vindoura.

Valham-nos, todos os santos!

 

Clauder Arcanjo. Contato: [email protected]