Mossoró: As Tardinhas De Antigamente – Wilson Bezerra de Moura

Um passado não muito distante, lá para a década de sessenta. Uma reflexão do comportamento e costumes do povo mossoroense, especialmente os mais antigos, revelam a paz que dominava na população.

Claro que a cidade era pequena, uma população que se dava o luxo de conhecer uns aos outros indistintamente. Talvez uma época do compadrio, compadre pra cá compadre pra lá, o certo é que todos viviam em paz, sem se preocupar em ser assaltado ou assassinado por balas perdidas, assim como hoje cruzam os ares de qualquer lugar, atingindo almas inocentes, adultos, jovens, velhos ou crianças, mesmo estas nada sabendo, o mundo de guerrilha em que vive na atualidade.

Sem querer querendo, foi assim que eu e o respeitável irmão e amigo Gilvandro, conhecido como Ringo, iniciamos uma conversa voltado para o passado de nossa cidade, enfocando as tardezinhas logo após o expediente de algumas pessoas de determinado esquema profissional, no caso os escrivães e tabeliões da justiça na cidade.

Ringo lembrava, na época trabalhava no cartório de seu Paiva, Reginaldo Paiva, nome verdadeiro, observava que as tardinhas, fim de expediente, vinham João Bruno da Mota, o Joca Bruno, escrivão do Quarto Cartório, Romeu Leite Rebouças, do Quinto Cartório, Sebastião Vasconcelos, do Terceiro Cartório, Leônidas Pereira de Paula, do Segundo Cartório, e o próprio Manoel Leandro, Tabelião do Cartório de Areia Branca, que por sinal era seu pai, vinha de Areia Branca diretamente para esse encontro informal que se dava às portas do cartório de seu Paiva, que também recebia a visita do bispo Dom Gentil Diniz Barreto, que saía da casa paroquial direto para o bate-papo.

Dobrando a Rua Coronel Vicente Sabóia, centro dos cartórios mossoroenses, já na Praça da Catedral, se balançando em sua cadeira todas as tardinhas, o Padre Mota, ao lado de seu Moacir, seu vizinho, recebia em sua calçada muitos amigos que vinham jogar palavras fora e dessa maneira se estendia por outras calçadas pelas ruas da cidade.

Foi assim o nosso bate-papo informal. Ringo entusiasmado com a conversa e eu inteiramente alucinado por ser um eterno admirador dos velhos momentos de uma gente. Éramos felizes e não sabíamos.

Era assim que terminavam as tardes do expediente diurno, numa alegria incontida expressada no semblante de todos quantos guardavam dentro de si o sentimento afetivo e cordial pertinente ao ambiente que se espirava em verdadeiro amor ao próximo. Não havia ódio, rancor, indiferença entre as pessoas.