Morre aos 62 anos, o “Guardião” do jornal O Mossoroense

Faleceu na manhã desta sexta-feira, 12 de maio, Cosme da Rocha Freire. Conhecido carinhosamente como “Vovô”. Cosme se recuperava dos efeitos de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) sofrido no último dia 2 de maio.

Após dez dias de internamento, recebeu alta na manhã desta sexta-feira, 12, e momentos após chegar a sua residência, sofreu um novo AVC, seguido de parada respiratória, e não resistiu.

Figura marcante na história do jornal O Mossoroense, “Vovô” mantinha uma ligação de mais de 40 anos com o periódico, e com o passar das eras, assumiu a natural condição de “guardião” do arquivo.

“A história dele com o jornal começou muito cedo, ainda na década de 1970. De lá pra cá muita coisa aconteceu e ele adquiriu uma paixão muito grande. Cuidava do arquivo com muito cuidado na empresa e em casa, onde mantinha um arquivo particular”, destaca Kaliane da Rocha, filha de Cosme da Rocha.

A paixão pelo periódico fez com que deixasse a venda, e distribuição, e passasse a integrar a equipe de impressão. Passou a dominar o ofício num período onde as páginas eram montadas com letras de chumbo em matrizes utilizadas na impressão. A tecnologia evoluiu, e suas funções foram sendo adaptadas as novas etapas de impressão.

Com o passar do tempo foi convivendo com grandes nomes do jornalismo norte-rio-grandense como Dorian Jorge Freire, Nilo Santos, Emery Costa, Phabiano Santos, César Santos, Gilberto de Souza, Carlos Santos, Emerson Linhares, Cid Augusto da Escóssia, e outros nomes, que marcaram época num natural processo de renovação.

“Conheci Vovô numa época de tecnologia muito rústica, onde ele limpava as placas de alumínio que eram utilizadas para imprimir o jornal. Estas placas eram muito caras, e precisavam ser reaproveitadas. Esta fase foi ultrapassada, e Vovô passou a atuar em outras áreas, sempre chamando a atenção pelo seu bom humor”, destaca o ex-diretor de redação do jornal O Mossoroense, Emerson Linhares.

E foi esta veia de humor que o tornou uma das figuras mais caricatas da história da imprensa mossoroense. Na redação do jornal O Mossoroense era conhecido como conselheiro, memória viva dos fatos registrados na história, e autor de jargões eternizados em reportagens e na memória dos que conviveram com ele.

“Ele criava frases de impacto que são lembradas por todos. Lembro que numa das fases de modernização do jornal ele falava. – “Jornal é luxo, em off-set é super luxo” – numa alusão ao uso de uma máquina off-set, que melhorava a qualidade de impressão do jornal. Brincava com sua função, e falava que fazia Letras há mais de 20 anos”, destaca o ex-editor de esporte do jornal O Mossoroense, Sérgio Oliveira, com quem conviveu 30 anos.

Uma outra marca de Cosme da Rocha se voltava para o uso de enigmas e apelidos utilizados em sua comunicação diária com os companheiros de trabalho.

“Era uma pessoa incrível. Mesmo sem formação, era capaz de dar os melhores conselhos e simplificar diversas situações. Um dos funcionários mais antigos, acolhia cada novo membro da equipe com carinho, tratando logo de arrumar um apelido e o atualizar sobre as histórias ocorridas no O Mossoroense”, conta a jornalista Adriana Morais.

Corriqueiramente era possível ver Vovô com os livros do arquivo na redação, falando de passagens históricas, erros nos títulos, e curiosidades registradas ao longo de décadas.

– “Expresso de Lixo começa a atuar em Mossoró – numa alusão a empresa Expresso de Luxo, que passava a operar com ônibus para Mossoró”;

– “Vêio, viu, olhou e foi embora” – manchete dando conta da rápida participação do governador na inauguração do Hotel Thermas de Mossoró;

– “Torneio de tênis é realizado no Hotel Thermas – manchete que por pouco não saiu, “Torneio de Pênis”, numa falha de composição encaminhada pelo próprio;

– “Por pouco não saiu pênis. Quando vi, já ia ser impresso”, destacava ele a cada nova coletânea de fatos inusitados apresentada a um novo visitante do jornal;

Aposentado desde 2012, costumava visitar o jornal para rever a equipe, algumas das vezes “escondido” da família. A última visita ocorreu no fim de abril quando conversou demoradamente com o fotógrafo Luciano Lellys e o editor Márcio Costa.

“Tínhamos uma preocupação em que ele não fosse só, devido os riscos, mas em algumas vezes ele escapava e ia “escondido”, destaca Kaline da Rocha, filha de Vovô.

Segundo familiares, durante o internamento no Hospital Regional Tarcísio Maia, mesmo debilitado, Vovô colocou em prática o hábito de apelidar as pessoas que o cercam.

“Apelidou, médicos e enfermeiros e fez um pedido. Ele gostava muito de rádio. Pediu que levássemos um pra ele ouvir música e as noticias. Conseguimos autorização e ele recebeu o rádio que o acompanhou até a manhã desta sexta-feira”, conclui Kaliane da Rocha.

Durante todo o dia, várias homenagens foram encaminhadas através das redes de pessoas como o professor universitário Aluísio Barros, jornalista Carlos Santos e outros profissionais com quem trabalhou em O Mossoroense e em outros segmentos jornalísticos.

O velório de Cosme da Rocha ocorre no Centro Velório Sempre situado em frente ao Tiro de Guerra de Mossoró. O sepultamento está marcado para as 10h deste sábado, 12, no Cemitério São Sebastião, Centro de Mossoró.