Jovens negros têm até 12 vezes mais chances de ser assassinados que brancos no Brasil

Neste domingo, 13 de maio, o Brasil comemora 130 anos da abolição da escravatura. No entanto, o país ainda tem muito a avançar na proteção e promoção de direitos à população afrodescendente. Segundo o Mapa da Violência, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil. A cada dia, são 66 vidas perdidas, totalizando 4.290 óbitos por ano. Um rapaz negro tem até 12 vezes mais chance de ser assassinado em relação a um branco. Em comum nesses homicídios, está a presença do racismo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

“Apesar da vitória representada pela concessão de direitos fundamentais quilombolas pelo Supremo Tribunal Federal e a adoção das cotas nas universidades e no serviço público, nós não temos muito a comemorar. Desde aquele 13 de maio de 1888, nós estamos completando 130 anos da dita abolição da escravatura, em que o negro ainda está sujeito a exclusão social, refletido nas condições precárias de moradia, a serem as maiores vítimas fatais de violência, na falta de acesso aos serviços básicos, pouca representatividade nos serviços públicos e na política, disse o secretário nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Juvenal Araújo Júnior.

Para denunciar casos de racismo, a população pode usar os canais disponibilizados pelo Ministério de Direitos Humanos, o Disque 100 e o aplicativo Proteja Brasil, serviços de atendimento telefônico gratuito, durante 24 horas, destinados a receber demandas relativas a violações de direitos humanos e, em especial, as que atingem a população em situação de vulnerabilidade.

“O Brasil está hoje tentando fazer uma reparação que deveria ser iniciada há 130 anos. Digamos que ela começou a ser feita agora. A denúncia sempre aconteceu. A questão é: o que foi feito com a denúncia? Por que por muito tempo, inclusive até hoje as denúncias, quando a gente chega em uma delegacia para denunciar caso de racismo, nós somos desencorajados a prosseguir com o registro pelos próprios policiais. Então assim, o Disque 100 surgiu, é uma plataforma válida, mas a gente não consegue acompanhar o fim que essa denúncia teve. ‘Não, você vai abrir um boletim de ocorrência só para isto? Não, não era isso não. Era só brincadeira. Ah, não acredito’. Entendeu? Então assim, nós somos desencorajados. E isso também é um prática de racismo institucional da polícia”, conta Joceline Gomes, especialista em gestão de políticas para gênero e raça.

Não importa se é maio, junho, julho, agosto, dezembro, é preciso falar sobre o racismo e discutir os diversos tipos de violência sofridos pelos negros no país, que vão  desde abordagens policiais agressivas, passando por barreiras de contratação no mercado de trabalho até a violência obstétrica.

“Todo preto sofre racismo, você já nasce no racismo, entendeu? Quando uma mulher preta entra em trabalho de parto dentro dos hospitais, eles dizem o seguinte: ‘Não, dá menos anestesia para ela… porque ela é mais forte’. Não sou eu que estou dizendo isso não, tem um estudo que prova isso, que mostra isso. Então assim, a gente já nasce vítima do racismo”, afirma a produtora multimídia Elizabeth Braga.

Segundo dados da campanha “SUS sem racismo”, lançada em 2014 pelo Ministério da Saúde, 60% das vítimas de mortalidade materna no país são negras. Somente 27% das mulheres negras tiveram acompanhamento durante o parto, enquanto entre as mulheres brancas o percentual chega aos 46,2%. Em 2011, a taxa de mortalidade materna era de 68,8 a cada 100 mil crianças nascidas vivas no caso de mulheres negras e de 50,6 para brancas.