Interventor Mário Câmara – Wilson Bezerra de Moura

Fazemos história com os fatos dela originados. Qualquer que seja o tempo acontecido fica marcada a passagem de acontecimentos que sinalizaram ações determinantes a uma expressão decisória de quem governa no momento.

O movimento comunista que emergiu na década de 30, precisamente no ano de 1935, apavorou o país inteiro, a começar pela região de maior perspectiva de transformação social, política e econômica, assim como São Paulo, espaço crescente que recebia influente pensamento de idealistas transformadores.

Naturalmente o impacto transformador da Revolução Russa de 1917 prosperou e se estendeu pelo mundo inteiro. O Brasil, como sempre país emergente, aderiu ao movimento transformista, quando do período revolucionário de 1935 era Interventor no Rio Grande do Norte o senhor Mário Leopoldo Pereira da Câmara. Uma administração tumultuada, sufocada em dificuldades, policiais exacerbados pela provocação de seus adversários, que exigiam seu afastamento, embora tenha sido um homem trabalhador incansável em favor da comunidade. Um desses feitos foi zerar a dívida contraída pelo Estado à Inglaterra, mas o importante  de sua gestão não foi só  zerar a dívida, mas ao passar seu governo ao sucessor deixou saldo positivo no caixa da Estado para outros empreendimentos.

O dinheiro que o Governo Mário Câmara ao sair deixou em conta bancária no Banco do Brasil foi o suficiente para aplicar em outros projetos, inclusive na construção do Grande Hotel, edifício que por muitos anos imperou no bairro da Ribeira, em Natal, e que pela imponência do prédio não só serviu como hotel, mas como ponto de encontros políticos e grandes discussões partidárias. Esse edifício de grande arte foi um projeto do arquiteto francês George Meunier.

Evidentemente na administração do Interventor Mário Câmara mereceu destaque o saneamento por ele construído, um grande melhoramento que impulsionou o desenvolvimento da cidade de Natal. Se não fosse a Revolução Comunista de 1935 ter chegado à cidade, surtindo movimentação revolucionária, teria sido um governo próspero. Porém, o movimento desviou a rota administrativa.

Com ressentimentos da revolta popular, resolve o Governador Mário Câmara enviar um emissário ao Governo Federal comunicando o fato e pedindo orientação de como proceder. Para isto pediu ao seu irmão Paulo Câmara, que ali residia, para contatar com o General Pantaleão Pessoa, chefe da Casa Civil, que ao receber o mensageiro foi indiferente à questão.

– General, o meu irmão Mário pediu-me comunicar-lhe que o Rio Grande do Norte, está sendo invadido por revoltosos de 35.

– Diga ao seu irmão, Interventor Mário Câmara, que não fique vendo fantasma em pleno dia.

O mensageiro Paulo Câmara não gostou da resposta nem um pouco. Despediu-se apenas da esposa do ministro, deu meia volta e partiu direto para falar com o chefe de Gabinete da Presidência, que procurou se entender com Ministro da Guerra, Góes Monteiro, e as providências foram tomadas com seriedade.