Geraldo Maia do Nascimento – Sertão, velho Sertão nordestino II

No caso do Sertão potiguar, algumas fazendas transformaram-se em povoados, em vilas, e deram origem, dentre outras, às cidades de Açu, Apodi, Caicó, Portalegre, Pau dos Ferros, Currais Novos, Mossoró e Acari.

Mas os primitivos donos das terras não aceitaram facilmente a presença do colonizador. Estes agiam sempre com violência sobre a população indígena. Os índios não aceitavam entregar suas terras e também não aceitavam ser escravizados. Quando os portugueses não conseguiam aprisioná-los, matavam-nos. Revoltados, e já quase extintos, os índios da Capitania do Rio Grande do Norte uniram-se aos das Capitanias do Ceará, de Pernambuco e da Paraíba e decidiram atacar as fazendas e os povoados do interior, incendiando casas e plantações, matando o gado, os colonos e os vaqueiros. Essa revolta foi chamada de “Guerra dos Bárbaros” ou “Confederação dos Cariris”. Foram 13 anos de luta, estendendo-se de 1687 até 1700.

Com a apaziguamento do indígena, esse tornou-se o melhor auxiliar dos fazendeiros. No Sertão, predomina o mameluco ou caboclo, mestiço de branco e índio. É o nosso vaqueiro. Vaqueiro das caatingas áridas, das criações sem cercas, separadas por ribeiros.

No século XVIII, a economia baseava-se, essencialmente, em duas fontes: na agricultura e na indústria pastoril. Mas, havia sempre o fantasma da seca que tudo extinguia, obrigando os sertanejos a abandonarem os seus “torrões”. Essas secas, ao contrário do que se possa imaginar, “vêm de datas antiguíssimas na nossa cronologia histórica”. A primeira que se tem notícia data de 1600, em pleno século XVII. A seca atinge, e muito, a pecuária, desorganizando a criação de gado. No século XVII, foram registradas cerca de quatro secas (1600, 1614, 1691 e 1692) e, no período seguinte, o fenômeno repetiu-se em número bem maior, num total de vinte e uma (1710, 1711, 1723, 1724, 1726, 1727), dentre outras.

Diante da miséria, os sertanejos humildes valiam-se da sua fé e logo surgiam os beatos, apresentando-se enviados de Deus para redimir os pecados daquela gente sofrida. Prometiam, através da oração e do sacrifício, atingir a felicidade eterna. Alguns desses beatos conseguiam formar comunidades como foi o caso de Antônio Conselheiro que criou a comunidade de Canudos, no sertão da Bahia, e do beato José Lourenço que criou a comunidade do Caldeirão, no e cearense.

Em todos os casos, essas comunidades foram perseguidas e destruídas de maneira cruel pelos coronéis e pelos poderosos da região. O sertão do Rio Grande do Norte também abrigou a uma dessas comunidades, cujos habitantes eram conhecidos como os “Fanáticos da Serra de João do Vale”. Esse movimento teve início com o beato Joaquim Ramalho que, segundo Câmara Cascudo, era gordo, lento, apático, sujeito às cismas, meditações longas, o olhar parado, acompanhando um pensamento misterioso.

A tendência mística, afirma-se, com poucos anos, nas orações sem fim, nos passos ritmados, braços para o firmamento, rezando missas, impondo penitências. O beato Joaquim Ramalho cresceu e, adulto, casou-se, passando a morar na vila do Triunfo. Continuou, entretanto, com o mesmo comportamento estranho, rezando sempre.

No final de 1894, morreu o vigário de Triunfo, padre Manuel Bezerra Cavalcante, com oitenta anos, sendo chorado por toda a comunidade. No ano de 1898, Joaquim Ramalho teve um ataque, assim descrito por Câmara Cascudo: “bruscamente parou, nauseante, gorgolhando vômitos e caiu de bruços, pesadamente”. Durante a crise começou a cantar. Quando recobrou os sentidos, não se lembrava de nada. O fenômeno repetiu-se nas tardes seguintes. A notícia se espalhou rapidamente, crescendo o número de curiosos, todos querendo assistir a cena. Estava nascendo mais um líder místico no sertão nordestino.

Continua na próxima semana.

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