Geração Fakenews

Mais uma vez recorro ao professor de Harvard Carl Sunstein para escrever sobre o momento de agudamento do radicalismo que vivenciamos no mundo. Em uma época em que as pessoas estão cada vez mais conectadas, cabem reflexões (ignorada pela grande maioria) como “por que nos expomos tanto em redes sociais?” ou “por que o mundo está cada vez mais intolerante?”.

Em A Era do Radicalismo, tentando resumir um livro em uma frase, o professor mostra como pessoas que pensam de forma parecida em determinado viés se tornam mais radicais ao estarem juntas. Com a planificação do mundo através da internet, um morador de Reykjavik na Islândia pode fazer parte de um grupo em uma rede social qualquer com moradores de Punta Arenas no Chile e se tornarem mais radicais ao compartilhares suas ideias.

Sob o prisma da análise do que é verdade e o que é opinião, ou ainda, de que uma verdade de um indivíduo pode ser diferente de outro e nem por isso um esteja certo e o outro errado, é assustador ver a força do que convencionou-se chamar de fakenews, ou “notícia falsa”, que se prolifera pelas redes sociais mais rápido que rastilho de pólvora.

Se temos a geração X, Z, millennials ou qualquer outra definição que a Sociologia queira dar, sempre relacionada ao período de nascimento do indivíduo, temos hoje a geração “fakenews”, que não tem nada a ver com a época de seu nascimento, mas com o comportamento de escolher sua versão de acordo com suas crenças e ideologias.

Muitos hoje se comportam de tal forma a buscar na internet uma versão que se encaixe naquilo que ele acredita para um determinado acontecimento, então ele passa a creditar naquilo como verdade absoluta, quer que os outros acreditem e fica contrariado quando alguém questiona aquela versão. Que fique claro, versão podem existir muitas, fato, não. Seus valores não tem o poder de alterar fatos.

São Tomás de Aquino, falando sobre ter os mesmos valores básicos, podendo divergir em um ponto ou outro, dizia que amigo era aquele que queria as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas. Levando isso ao pé da letra, isola-se cada vez mais. Não enxergo uma solução única, principalmente porque as partes radicalizadas quase nunca se enxergam assim, não estão dispostas a ceder uma vírgula daquilo que acredita e se o fizerem correm o risco de serem expulsos de seus grupos.

No Brasil atual, é praticamente impossível estabelecer um diálogo, por exemplo, entre um eleitor de Lula e um de Bolsonaro. As partes não se entendem e, geralmente, partem para a agressão ou desqualificação do outro. Um não quer e não aceita acreditar que pode estar equivocado ou exagerando em algum ponto.

É triste, mas estamos cada vez mais perdendo a capacidade do diálogo. Sem diálogo, não há caminho para o distensionamento.