Francinaldo Rafael – Uso da psicografia nos tribunais – parte I

Na semana que passou, jornais cearenses relataram o fato de uma carta psicografada ter colaborado para a identificação de uma ossada humana. Surpreso, o inspetor que investiga o caso disse que o inquérito foi reaberto.

Não é novidade acontecimento desse tipo. Em julho de 1982, uma decisão do Juiz Orimar de Bastos causou grande repercussão no Brasil e no exterior. Levando em consideração uma psicografia, absolve o estudante José Divino Nunes, que casualmente havia matado o amigo  Maurício Garcez Henrique.

No dia 8 de maio de 1976, na cidade de Goiânia (GO), uma brincadeira com revólver ocasionou a morte de um jovem e, consequentemente, originou um drama que se arrastou por anos. Na residência dos pais, ao pegar numa arma de fogo pela primeira vez, o estudante José Divino Nunes, de 18 anos, atingiu o inseparável amigo Maurício Garcez Henrique, 15 anos, com um tiro no tórax. Conduzido às pressas ao hospital, Maurício faleceu antes de receber os primeiros socorros.

Aberto o inquérito  para apuração dos fatos, desde a primeira declaração dada à autoridade policial, José Divino afirmou que nunca pensou em matar Maurício; que tudo não passara de uma terrível fatalidade. Eram vizinhos, colegas de escola e amigos íntimos havia quatro anos. Toda a versão narrada por Divino coincidia com os dados técnicos da reconstituição realizada pelos peritos.

Seis dias após o incidente, aquela família católica recebeu a visita espontânea de D. Augustinha Soares e D. Leila Inácio, que traziam mensagens mediúnicas dos filhos que já haviam partido para o além. Foi a primeira vez que tomaram conhecimento de que os mortos escrevem, afirmou o pai de Maurício Garcez. Sentindo que as cartas vindas do Mundo Espiritual eram convincentes, resolveram  buscar orientação e paz, à luz do espiritismo. Após algumas visitas a Chico Xavier, receberam notícias do filho, enviadas através de Espíritos amigos. Eis que em 27 de maio de 1978, Maurício envia a primeira carta psicografada aos pais. Em um dos trechos diz: “(…) Peço-lhes não recordar a minha volta para cá, criando pensamentos tristes. O José Divino e nem ninguém teve culpa em meu caso. Brincávamos a respeito da possibilidade de se ferir alguém, pela imagem no espelho; sem que o momento fosse para qualquer movimento meu, o tiro me alcançou, sem que a culpa fosse do amigo, ou minha mesmo (…)”. Os pais, comovidos com o recebimento dessa primeira carta,  não tiveram dúvidas em divulgá-la,  juntamente com uma cópia da cédula de identidade de Maurício, mostrando a semelhança da assinatura em ambos os documentos. A carta foi anexada aos autos do Processo Judiciário, tornando-se peça relevante tanto para o advogado de defesa, quanto ao Juiz responsável. Em um dos trechos da sentença, diz o Meritíssimo Juiz Orimar de Bastos: “(…) Temos que dar credibilidade à mensagem (…), embora na esfera jurídica ainda não mereceu nada igual, em que a própria vítima, após sua morte, vem relatar e fornecer dados ao julgador para sentenciar”.

 Levando em conta o relato da carta de Maurício Garcez psicografada pelo médium Chico Xavier, que em nada divergia das declarações do acusado no seu interrogatório, no dia 16 de julho de 1979, o Juiz Orimar de Bastos declarou absolvido o estudante José Divino Nunes.