Francinaldo Rafael – Literatura espírita: nem tudo é o que parece ser

Com o advento da popularização do espiritismo no Brasil, uma grande quantidade de títulos envolvendo a temática vem sendo ofertada pelo mercado editorial. Tanto há livros escritos por pesquisadores e estudiosos, quanto os ditos mediúnicos. E é justamente sobre esses últimos que alertamos o leitor: nem todo livro psicografado é espírita; nem todos trazem os princípios da Doutrina na sua constituição.

Diante dessa produção crescente, muitas vezes através de editoras comprometidas apenas com as vendas, é importante que o interessado em conhecer ou estudar o espiritismo jamais abra mão do contato com as obras básicas organizadas por Allan Kardec, O Codificador. É através delas que mantem-se a segurança do conteúdo espirita e a lucidez para distingui-lo de outras práticas espiritualistas.

Na Revista Espírita (novembro de 1859) encontramos a lúcida observação de Kardec: “Deve-se publicar tudo quanto dizem os Espíritos? (…) O erro de certos autores é o de escrever sobre um assunto antes de tê-lo aprofundado suficientemente, e, por aí, dar lugar a uma crítica fundada. Lamentam-se do julgamento temerário de seus antagonistas: não prestam atenção ao fato de que, eles mesmos, frequentemente, mostram o ponto fraco”.

Já na edição de maio de 1863, mostrando o rigor com o qual tratava as informações vindas dos Espíritos, Kardec relata que examinou três mil e seiscentas comunicações mediúnicas. Desse número, apenas cem tinha mérito fora do comum e não mais que cinco ou seis de real valor. Diz ele: “No mundo invisível, como na Terra, não faltam escritores, mas o bons são raros”.

Perguntado sobre a desenfreada publicação de obras de caráter duvidoso, Divaldo Franco responde: “Vivemos um momento de grandes equívocos na sociedade, em face do tumulto que ocorre em toda parte. Nesse sentido, há uma grande busca por notoriedade, pela fama. Pessoas imprevidentes, portadoras ou não de mediunidade, são tomadas de improviso por tais inquietações e, porque entraram em contato com o espiritismo, logo se acreditam portadoras de faculdades extraordinárias, em razão do campo fértil para a credulidade e tornam-se, de um para outro momento, psicógrafos, expositores, debatedores de relevo.

Nunca será demais que os dirigentes espíritas e todos nós estejamos vigilantes, observando as recomendações da Doutrina, mantendo critérios cuidadosos, a fim de não sermos enganados nem enganarmos a ninguém. Por outro lado, Espíritos perversos, adversários do Bem, aproveitam-se do descalabro existente e inspiram pessoas invigilantes, presunçosas, falsamente humildes, mas prepotentes, tornando-as portadoras de mensagens destituídas de autenticidade, que geram confusão e dificuldades no Movimento Espírita.

Alguns desses descuidados irmãos auto elegem-se herdeiros de personalidades históricas e missionários do amor, utilizando-lhes indevidamente o nome, apropriando-se da sua herança para o exibicionismo no banquete da fatuidade, o que é realmente lamentável”.

Portanto, é imprescindível analisar criteriosamente todo o ensino que venha dos Espíritos, sob o crivo da razão. Conforme assevera o Espírito Erasto, desde que uma opinião nova venha a ser acrescentada, “(…) por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom-senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.”