Fátima Bezerra denuncia “farsa” para efetivar “golpe”

A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) fez, no Plenário do Senado, a defesa de seu voto durante a sessão para analisar a admissibilidade do pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff.

Para ela, o Pais vive um momento de tragédia e farsa, quando a oposição usa de artifícios possíveis para tentar cobrir legalidade um golpe de Estado que, mesmo sem tanques de guerras ruas, produz atentados aos direitos humanos.

“Sabemos que este processo de impeachment é apenas a fantasia que oculta um projeto político que foi derrotado nas eleições democráticas, como denunciou Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz, aqui mesmo deste Plenário”, destacou a senadora.

Fátima destacou que, como não há crimes de responsabilidade nem existe dolo, como exige a Constituição para afastar legalmente um presidente da República, o Congresso Nacional transformou-se em um tribunal de exceção.

Ela lembrou que a falta de base legal foi demonstrada de forma competente pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, e reafirmada não só por juristas notáveis, mas também pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luiz Almagro, e pelo presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, Roberto Caldas.

A senadora fez questão de relembrar que o que chamou o tempo todo de golpe teve início a partir da atitude do senador Aécio Neves e de seu partido, o PSDB, de não acatarem o resultado das urnas e se rebelarem, unindo-se a Eduardo Cunha e Michel Temer.

“Era de se esperar que um partido como o Democratas, que traz em seu DNA a marca de ter sustentado a ditadura militar, fizesse parte do consórcio golpista. Era de se esperar que a mídia conservadora, que apoiou o golpe de 1964, se transformasse em instrumento de agitação e propaganda do movimento golpista. Mas é lamentável ver o PSDB, por sua tradição, adentrar na lata de lixo da história dessa maneira, liderando este golpe de Estado travestido de impeachment. O PSDB e o senhor Aécio Neves entram neste momento para a história, como os coveiros da democracia!”, ressaltou a parlamentar.

Fátima fez um balanço do legado que deixam os governos Lula e Dilma, especialmente na área de educação. Ela citou o Fundeb, a Lei do Piso Salarial Nacional de Professores, o programa Bolsa Família, a expansão da educação profissional e tecnológica, a criação de 18 novas universidades federais e de mais de uma centena de novos campi como grandes conquistas na área de educação.

“Mas eu arriscaria dizer, Sr. Presidente, que o Plano Nacional de Educação, que destina 10% do PIB para o setor e a lei que reserva 75% dos royalties do petróleo para a educação e 50% do fundo social do pré-sal para educação e saúde foram as duas principais conquistas da sociedade brasileira desde a promulgação da Constituição de 88”.

– Leia o discurso de Fátima Bezerra na íntegra

Excelentíssimo Senhor Presidente,

Sras. Senadoras, Srs. Senadores,

Querido povo brasileiro,

Tragédia e farsa é o que país enfrenta no momento; é o que presenciamos no Congresso Nacional no dia de hoje. Os golpistas buscam tirar do poder a presidenta Dilma Rousseff, democraticamente eleita, e, para tanto, usam todos os artifícios possíveis para tentar cobrir com o manto da legalidade o que, de fato, é um golpe de Estado. Um golpe que prescinde da presença de tanques de guerra nas ruas, mas se utiliza dos mesmos ataques aos direitos humanos. Sabemos que este processo de impeachment é apenas a fantasia que oculta um projeto político que foi derrotado nas eleições democráticas, como denunciou Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz em 1980, aqui mesmo neste Plenário.

É golpe de Estado porque a presidenta não cometeu nenhum crime de responsabilidade, como preconiza a Constituição brasileira. Se as ações da presidenta não configuram crime e se não há dólo, o Senado Federal está se transformando, neste exato momento, a exemplo da Câmara dos Deputados no dia 17 de abril, em um tribunal de exceção. E a presidenta Dilma, uma mulher íntegra, honesta, poderá ser afastada da presidência da República como se criminosa fosse. Justo ela, que foi presa e torturada durante a ditadura militar, é submetida novamente a um tribunal de exceção.

O fato, Sr. Presidente, é que na ausência de crimes de responsabilidade praticados diretamente pela presidenta Dilma, a oposição, derrotada quatro vezes seguidas nas eleições presidenciais e que busca agora tomar o poder de assalto, se viu obrigada a inventar tais crimes, recorrendo ao argumento de que práticas contábeis usuais agora se configuram como crimes de responsabilidade: as chamadas peladas fiscais e os decretos de suplementação orçamentária.

O desmonte crítico dessa motivação jurídica foi efetuado de forma competente, não somente pelo Advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo, mas também por juristas notáveis, como Fábio Konder Comparato e Dalmo Dallari.

A imprensa e organismos internacionais têm denunciado amplamente o golpe de Estado em curso em nosso país. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, afirmou que não há qualquer base legal para o impedimento da presidenta Dilma. Nas palavras de Almagro, “não se pode trocar a soberania popular por um oportunismo político-partidário”.

Já Roberto Caldas, presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, afirmou, com base em farta jurisprudência daquela Corte, que o processo de impeachment da presidenta da República está repleto de nulidades e tem assustado o mundo jurídico internacional, tamanha a parcialidade dos julgadores e o prejulgamento anunciado às claras.

Mas fazemos questão de deixar claro: este golpe de Estado teve início quando o PSDB e seu candidato à presidência, Aécio Neves, derrotado nas eleições presidenciais, não tiveram a grandeza de acatar a escolha da maioria da população brasileira e se rebelaram contra o resultado das eleições democráticas. Este golpe ganhou um aliado importante quando o então presidente da Câmara dos Deputados, o Sr. Eduardo Cunha, decidiu se vingar do PT e do governo da presidenta Dilma, acatando o pedido de impeachment encomendado pelo PSDB, em nítido desvio de finalidade.

Este golpe acumulou força quando a maioria conservadora do Congresso Nacional sabotou o governo da presidenta Dilma com as pautas-bombas, apostando no quanto pior melhor, num período de grave crise econômica internacional. Este golpe segue em curso, pois o Sr. Michel Temer, vice-presidente da República, não teve nenhum pudor de operar “tenebrosas transações” para assumir a cadeira da presidenta da República. Este golpe é espúrio, é antipovo, é um desrespeito à população, pois a Ponte para o Futuro nada mais é do que a plataforma da elite, o programa da FIESP, daqueles que querem precarizar os direitos assegurados na CLT e na Constituição Cidadã.

Era de se esperar que um partido como o Democratas, que traz em seu DNA a marca de ter sustentado a ditadura militar, fizesse parte do consórcio golpista. Era de se esperar que a mídia conservadora, que apoiou o golpe de 1964, se transformasse em instrumento de agitação e propaganda do movimento golpista.

Mas é lamentável ver o PSDB, por sua tradição, adentrar na lata de lixo da história dessa maneira, liderando este golpe de Estado travestido de impeachment. O PSDB e o senhor Aécio Neves entram neste momento para a história como os coveiros da democracia!

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, nós somos parte de uma longa trajetória de lutas, que começou antes de nós e que, sem dúvida alguma, vai nos ultrapassar. O PT foi a organização que construímos, durante a transição da ditadura civil-militar à democracia, para organizar os nossos sonhos. Foi a ferramenta construída para organizar quem estava à margem da política, à margem da cidadania, à margem da sociedade. Não é a primeira vez que o nosso partido é criminalizado. Não se trata de negar os erros e equívocos que também carregamos conosco, mas de deixar claro que a Casa Grande nunca aceitou ser governada pelos filhos da Senzala, o que explica muito do que estamos vivendo nos dias de hoje em nosso país.

No ano em que Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse como o primeiro operário eleito presidente do Brasil, eu iniciava o meu primeiro mandato de deputada federal, graças à generosidade do povo do Rio Grande do Norte. Sabia que não estava chegando ao Congresso Nacional sozinha, sabia que carregava comigo os sonhos de milhares de pessoas comuns que, vindo de onde eu vim, esperavam de mim uma atuação séria e comprometida com as necessidades do povo mais humilde, do povo que constrói no dia a dia do seu trabalho a imensa riqueza do nosso país.

Aqui, no Congresso Nacional, tive a oportunidade de trabalhar incansavelmente, seja na condição de deputada federal ou de senadora, por um país melhor para quem nele vive e para quem nele trabalha. Ninguém será capaz de apagar o imenso legado dos governos do presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff.

Eu poderia passar horas e horas falando sobre esse legado de avanços e conquistas, mas eu gostaria de destacar com muita ênfase o imenso legado dos governos liderados pelo PT para a educação brasileira.

O FUNDEB, Sras. e Srs. Senadores, e a Lei do Piso Salarial Nacional, representam marcos históricos da luta em defesa da educação pública de qualidade. O programa Bolsa Família, para além de combater a fome e a miséria, cumpre um papel fundamental que é manter nossas crianças na escola.

Mas vou além, Sr. Presidente. Foi o presidente Lula que revogou o dispositivo que interditava a expansão da educação profissional e tecnológica, tornando possível a expansão dos Institutos Federais de Educação, que hoje estão espalhados pelos mais diversos recantos do Brasil.

Sras. e Srs. Senadores, vocês não imaginam a emoção que me invade quando ando pelo interior do Rio Grande do Norte e sou abordada por pais e mães de estudantes do IFRN, que me abraçam comovidos, agradecendo a oportunidade que foi dada aos seus filhos.

Destaco ainda os avanços no acesso ao ensino superior, por meio do PROUNI, do FIES, da Lei de Cotas e do Reuni, que possibilitou a criação de 18 novas universidades federais e de mais de uma centena de novos campi.

Eu arriscaria dizer, Sr. Presidente, que o Plano Nacional de Educação, que destina 10% do PIB para o setor, somado à lei que reserva 75% dos royalties do petróleo para a educação e 50% do fundo social do pré-sal para educação e saúde, foram as duas principais conquistas da sociedade brasileira desde a promulgação da Constituição de 88.

E é exatamente por isso que lutar contra este golpe de Estado em curso no Brasil é lutar em defesa da educação brasileira.

Estou segura, senhoras e senhores, de que todas essas conquistas estarão em grande risco com o afastamento da presidenta Dilma. Portanto, é com muita convicção, é com muito senso de justiça, que votarei contra esta farsa.

Farei do meu voto um tributo à memória de Djalma Maranhão, de Emmanuel Bezerra, de Anatália Alves e de Rubens Lemos, vítimas da ditadura. Farei do meu voto uma homenagem a Paulo Freire, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes, que dedicaram suas vidas à defesa da educação.

Farei do meu voto uma convocatória aos estudantes, professores, juristas, artistas, intelectuais e a cada trabalhador e trabalhadora brasileira, para que não desistam da luta em defesa da democracia.

Viva Luiz Inácio Lula da Silva! Viva Dilma Vana Rousseff! Sairemos deste jogo de cartas marcadas ainda mais dispostos a lutar, pois não há derrota definitiva para quem assume o lado certo da história. Os golpistas não serão perdoados jamais!

NÃO AO GOLPE!

EM DEFESA DA DEMOCRACIA,

OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER!