ENTREVISTA – Infectologista alerta para o risco de contaminação por diferentes doenças no Carnaval

Muita gente já está no clima de folia carnavalesca, curtindo blocos e troças. No entanto, nesse momento tipicamente de alegria, boa parte dos foliões esquecem de tomar cuidados fundamentais para a saúde. Como forma de ajudar a esclarecer os foliões o jornal o Mossoroense traz entrevista com o infectologista Alfredo Passalacqua, professor da cadeira de infectologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), que apresenta ações que devem ser tomadas para evitar problemas após a folia de momo.

O MOSSOROENSE – Quais as principais doenças que podem ser adquiridas durante o carnaval? Por quê?

ALFREDO PASSALACQUA – O carnaval está chegando e com ele várias doenças; AIDS, clamídia, gonorréia, sífilis, HPV, Hepatite B, Herpes genital e labial, mononucleose, são algumas, dentre muitas, doenças transmissíveis pelo sexo sem segurança. O Carnaval também reúne fatores de risco preocupantes para o aumento da transmissão do zika, num momento em que a epidemia ainda se encontra em curva de ascensão no Brasil.

OM – É comum depois dos dias de festas um aumento da procura por atendimentos de saúde?

AP – O Carnaval é tradicionalmente uma das festas mais animadas do país, sinônimo de curtição, alegria, jovialidade. Entretanto, para muitos foliões essa época do ano termina cheia de preocupações e má lembranças, devido à negligência que leva às doenças sexualmente transmissíveis e, principalmente, gravidezes indesejadas, levando ao aumento na procura por orientação e tratamento médico pós-festas.

OM – O que fazer para evitar os problemas comuns como intoxicação alimentar?

AP – Uma intoxicação alimentar é causada pela ingestão de apenas um ou vários alimentos contaminados com microrganismos, originando sintomas como mal-estar, vômitos, enjoos e diarreia. É importante beber muitos líquidos, como água, chás, sucos de frutas naturais, água de coco, sais de reidratação oral, que se compram na farmácia, para repor os líquidos perdidos pelos vômitos e diarreia, acelerar a recuperação e evitar a desidratação. O repouso é fundamental para ajudar a tratar a intoxicação alimentar, pois o organismo necessita de poupar energia devido à perda de líquidos pelos vômitos e diarreia, ajudando também a prevenir a desidratação. Assim que os vômitos e a diarreia estiverem diminuindo ou passando, deve-se fazer uma alimentação leve.

 

 

OM – Problemas relacionados ao consumo excessivo de álcool também são comuns? Quais são esses problemas? Quais os riscos?

AP – No caso do álcool, se você bebeu muito, provavelmente sentirá tonturas, vômitos, se sentirá eufórico – ou deprimido, dentre outras características. Tontura, dor de cabeça, sensação de boca seca, desânimo, sentidos no dia seguinte são sintomas da famosa “ressaca”: uma reação do seu corpo a essa ingestão demasiada. O uso excessivo e prolongado do álcool pode irritar a mucosa estomacal, causando a gastrite. Essa confere muito desconforto ao portador, uma vez que causa ardência, queimação, dores de cabeça, aumento da pressão arterial, problemas no coração e pâncreas, hepatite e cirrose. Distúrbios do sistema nervoso, como desatenção e tremedeira, também podem fazer parte do quadro. Dessa forma, caso deseje mesmo beber, procure se alimentar antes e durante, priorizando alimentos ricos em amido. Evite beber excessivamente, procurando revezar, entre um copo e outro de bebida, um copo de água, para evitar a desidratação dos neurônios, responsável pela ressaca.

OM – Além de problemas mais simples ainda tem o risco de doenças sexualmente transmissíveis. Mesmo com todas as campanhas, as pessoas ainda se arriscam mantendo relações sexuais sem preservativo?

AP – O carnaval é um período propício para um aumento da incidência de DSTs . Se observa que o abuso de drogas como o álcool, aliado à ideia de que se deve aproveitar todo o ano nesses quatro ou cinco dias, fazem com que as pessoas se cuidem menos”, arriscando-se a adquirir esses tipos de doenças. O principal desafio em relação ao público jovem é fazer com que o conhecimento se transforme em uma mudança de atitude. estima-se que 97% das pessoas de 15 a 24 anos sabem que o preservativo é a melhor maneira de evitar a infecção pelo HIV e outras DSTs, mas seu uso na primeira relação sexual é de apenas 61%, caindo para 30,7% em todas as relações com parceiros fixos.

OM – Sexo com muitos parceiros também é arriscado, ou se essas relações forem com camisinha não tem problema?

AP – Além de importante contraceptivo, a camisinha é um dos principais métodos para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST), como Aids, gonorréia, sífilis, hepatite B, herpes genital, verruga genital (HPV), entre outras. São doenças sérias, que podem trazer uma série de riscos e complicações à saúde. Preveni-las depende muito da conscientização de cada um. Nesse processo, informação e camisinha, sem dúvida, são instrumentos bastante eficazes! Evitar promiscuidade é importante, pois preservativo não evita doenças adquiridas pelo beijo como: Mononucleose – popularmente chamada de “a doença do beijo”, ela tem como vírus responsável o Epstein-Barr, da família Herpesviridae. Os sintomas são febre, dor de garganta, gânglios no pescoço e até alterações no fígado e no baço.

Herpes simples – os vírus de tipo 1 (oral) e 2 (genital) provocam lesões bolhosas em pele e mucosas, que podem reativar periodicamente;

Meningites – ocorre quando, por alguma razão em específico, bactérias e vírus vencem as defesas do organismo e atingem as meninges, membranas que envolvem e protegem o encéfalo, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central. Causa febre alta, mal-estar, vômitos, dor forte de cabeça e no pescoço;

Hepatite A –  causada pelo vírus VHA, a doença tem como sintomas: febre, dores musculares, cansaço, mal-estar, inapetência, náuseas, urina escura e vômito. Além da via oral-fecal, pode ser transmitida por meio de alimentos ou água contaminados;

Gripes e resfriados – a gripe ocorre quando organismo é infectado pelo vírus influenza, enquanto o resfriado pode ser causado por vários tipos de vírus, como o rinovírus ou coronavírus. Provocam febre, dores de cabeça e no corpo, tosse, coriza, mal-estar e fraqueza.

OM – Qual a dica para os foliões aproveitarem a festa com mais responsabilidade, para não ter problemas depois?

AP – Tenha sempre em mãos as famosas camisinhas. Prevenir é melhor do que remediar, pois a alegria do Carnaval deve durar para sempre. Beba muita água e mantenha o seu corpo hidratado e tenha repouso e uma alimentação equilibrada. Isto pode ajudá-lo a aproveitar melhor a festa.