ENTREVISTA – Após despedida emocionante diretor do Campus da UnP afirma: “Tudo valeu a pena”

Ele concluiu o curso de graduação em Administração de Empresas no fim da década de 1990 pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern) e a partir de uma iniciativa sua a Universidade Potiguar (UnP) ultrapassou os limites da Reta Tabajara para instalar-se em Mossoró. Foram anos de superação de obstáculos, dificuldades, limitações, até alcançar o patamar atual de instituição de ensino superior com mais de 20 cursos em funcionamento e milhares de estudantes ativos na graduação e pós-graduação. Na última semana Frank Felisardo recebeu a informação de que seria desligado da instituição, e durante sua despedida, a cidade registrou um momento épico. Funcionários e estudantes estenderam um imenso tapete vermelho no trajeto da sua saída que foi acompanhada com palmas por cerca de três minutos. “Foi um momento extremamente emocionante que revela para mim que tudo valeu a pena”. Nesta entrevista exclusiva ao jornal O Mossoroense, Frank Felisardo fala da sua área de atuação, da trajetória junto a UnP, e dos planos para o futuro.

O MOSSOROENSE – Você é um personagem importante da história do ensino de graduação em Mossoró. Se formou num momento de transição de curriculum do curso de Administração de Empresas da Uern na década de 1990 e mesmo assim conseguiu se estabelecer. O que mudou desde sua época de aluno, até hoje, neste segmento?

FRANK FELISARDO: O mundo empresarial passou nas últimas décadas por uma mudança substancial com a evolução constante das novas tecnologias, o acirramento da competição, as mudanças nos processos de gestão e outras. Tive a preocupação de estar sempre ligado a todas essas tendências e mudanças. Direcionando o processo de ensino a entender as novas realidades e trabalhando as competências para atuar neste cenário

OM- Na época em que cursava Administração de Empresas, o Rio Grande do Norte tinha cinco cursos em todo o estado. Hoje são cinco cursos ativos apenas em Mossoró. Está expansão tem refletido em bons resultados para a região?

FF – Entendo que sim, porque o aumento de profissionais de Administração leva uma visão mais profissional a inúmeras empresas micro, pequenas, médias e grandes, o que gera possibilidade de melhoria na oferta de produtos e serviços, com melhor qualidade voltada para o consumidor.

OM- Você foi um dos responsáveis pela instalação da UnP em Mossoró, cerca de 20 anos atrás. Como se deu este processo?

FF – Estava fazendo mestrado em Natal na UERN e numa disciplina tinha que fazer um trabalho sobre estratégia. Como já tinha informações de que a UnP pensava em vir pra Mossoró, me ofereci a Marcos Lael, que a época fazia parte da diretoria, para desenvolver um plano estratégico de implantação do Campus. Eles gostaram tanto do projeto que me convidaram para trabalhar um projeto real. Isso foi em 2000. Montamos o projeto e enviamos ao MEC. Em 13 de dezembro de 2001 (dia de Santa Luzia), recebemos autorização de funcionamento. Fizemos uma parceria com o Colégio Diocesano Santa Luzia para funcionar no colégio. Fizemos um vestibular em fevereiro de 2002 e iniciamos em março com os cursos de Administração, Contábeis e Direito.

OM- Desde então foram instalados mais de 20 cursos na unidade de Mossoró. Quais os desafios de encabeçar um projeto tão audacioso?

FF – Isso, mais de 20. O desafio era imenso, pois em Mossoró só existia Uern e a Esam. Ao falar de ensino superior só existiam estas duas instituições na mente das pessoas.
Foi um trabalho árduo, de formiguinha, tentando criar na mente das pessoas que poderiam ter outra opção de ensino superior. Além disso, existia um preconceito com o ensino superior privado. Fomos pouco a pouco conquistando confiança, e semestre a semestre, aumentando os alunos e cursos. Inicialmente tivemos problemas com a estrutura, disponibilidade de docentes, reconhecimento do nome, entre outros. Assumi a função de diretor de Campus, mas fazia de tudo. Sala de aula, planejamento, organização, aplicação de vestibular, orientação a alunos, seleção de professores, funcionários e treinamentos.

OM- Na última semana foi anunciado seu desligamento da instituição após 16 anos de dedicação a UnP. Como se deu este processo de desligamento?

FF – Recebi o comunicado do presidente da mantenedora onde me deixou claro que o desligamento estava acontecendo em função da extinção da função de Diretor de Campus e que muitas mudanças estavam sendo feitas em função da adequação as realidades econômicas atuais.

OM- Sua iniciativa e dedicação resultou na graduação de cerca de 20 mil pessoas através da UnP. Há como definir o sentimento de ser o responsável por uma conquista tão significativa?

FF – É uma emoção sem tamanho. Inexplicável. Saber que pude direta, ou indiretamente, fazer a diferença na formação profissional de tantos alunos. Fico imaginando que para muitos, isso representa a concretização de um sonho em poder dizer: “Eu sou administrador, enfermeiro, contador, advogado…”. Sempre busquei um diálogo aberto e franco, com todos os alunos. Dando possibilidade de discussão dos mais diversos problemas e me empenhando sempre para chegarmos a um denominador positivo.

OM- Sua despedida entrou para a história de Mossoró como um momento épico com direito a tapete vermelho e cerca de três minutos de aplausos partindo de estudantes e funcionários. Este momento foi registrado em vídeo que circulou pelas redes sociais. O que se passou na sua cabeça naquele instante?

FF – Apesar de serem apenas três minutos, passou um filme de tudo que vivi dentro da UnP. Das alegrias, dos sofrimentos, da minha dedicação, das conquistas, mas acima de tudo da gratidão que tenho por cada um daqueles que estavam ali me aplaudindo. Foi um momento extremamente emocionante que revela para mim que tudo valeu a pena. A forma que sempre preguei de tratar meus colegas de trabalho, com respeito, justiça, equidade, escutando sempre e incentivando a todo momento o desenvolvimento profissional de cada um.

OM – Sua trajetória com a UnP sofre um hiato, mas você tem outros projetos em andamento…

FF – Estou em fase final de conclusão do meu Doutorado pela Universidade Politécnica da Catalunha, em Barcelona, e pretendo defender minha tese no início do segundo semestre. O mundo da educação me encanta. Me realizo ao trabalhar para a formação e crescimento profissional dos alunos. Vibro quando vejo os sorrisos nas colações de grau. Cresço com o crescimento de cada um deles. Se tiver oportunidade continuarei dando o melhor para este segmento. Já tenho alguns projetos em mente sim, mas prefiro revelar somente quando tiver algo mais concreto. Este é um momento de calma e reflexão.

POR MÁRCIO COSTA