Crônica: Um calvo apaixonado

Crônica: Um calvo apaixonado

Por Rodrigo Alves de Carvalho

 

Dois amigos conversam.

– Que cara é essa Alfredo? Tá pensativo e triste?

– Estou apaixonado meu amigo. Aquelas paixões fulminantes que degradam o coração da gente.

– Mas isso é motivo para alegria e não essa cara de velório.

– Mas é que esse amor está muito distante de mim.

– Por quê? Não vai me dizer que se apaixonou por outra participante do BBB?

– Não! É a Prisciliana. Irma do Wagnão…

– Conheço a Prisciliana. É muito gata. Mas ainda não entendi porque não chega e declara seu amor.

– É que sou calvo

– O que tem haver você ser calvo?

– Ela gosta de rock and roll. Está sempre junto de metaleiros cabeludos. Jamais daria atenção a um cara com essas entradas na testa e o desmatamento total no centro da cabeça.

– Olha Alfredo, você precisa ter mais autoestima e não ligar pra isso, afinal ser calvo não é nenhuma doença contagiosa.

– Diz isso porque você é cabeludo! Mas eu sei o que vou fazer para ganhar o coração da Prisciliana daqueles adoradores de Black Sabbath.

– Vai começar a ouvir rock também?

– Não! Vou pesquisar na Internet alguns remédios para crescer cabelo.

– Você está louco Alfredo? Acreditar nas coisas da Internet pode ser perigoso. Procure um especialista então.

– É muito caro e o resultado, se aparecer, demora uma eternidade. Já nos fóruns da Internet vou saber como ficar cabeludo rapidinho.

Passou-se dois meses e os dois amigos se encontram novamente. Dessa vez Alfredo estava com uma vasta cabeleira comprida e esvoaçante.

– Alfredo quase não te reconheci. Que cabelão e esse?

– Pois é amigo. Não disse que pesquisando na Internet iria tomar remédios e o cabelo cresceria.

– Mas que remédio você tomou?

– Nem lembro. Tomei um monte e tudo misturado.

– Pô Alfredo então você deve estar muito contente agora. Já que vai poder conquistar o coração da Prisciliana.

– Não é bem assim. Na verdade, desisti desse amor platônico.

– Por quê?

– Primeiro é que de tanto tomar remédio fiquei com impotência sexual.

– Não me diga Alfredo. Isso é horrível!

– Sim, mas o pior é que a Prisciliana acabou ficando noiva.

– De quem?

– Não o conheço. Só sei que ele é careca.

 

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.