Clauder Arcanjo – PÍLULAS PARA O SILÊNCIO (PARTE CXXXIX)

Tu és aquilo que as tuas palavras ouvem,
ouves o teu coração (as tuas palavras “o teu coração”)?
(Manuel António Pina, em “Tanto silêncio”)

Andaste surdo ao teu mundo? Sim, confessa!; há tempo não traduzes tuas dores, teus fantasmas, teus sonhos, teus anseios… em palavras. Nem ditas, nem rabiscadas.
Tanta surdez há de te enlouquecer, ou te bestializar.

Se teu coração não escuta, saibas logo, é caso de mal crônico do escre(vi)ver. Não há medicina (alopatia ou homeopatia) para tal; contudo, prescrevo-te uma dose diária de verbo. Preferencialmente, após um cálice de Poesia.

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Alguém pode enganar sua língua; outros podem ludibriar seu tato; alguns, se esconder (e não se revelar) no brilho dos olhos. No entanto, se decifrares os hieróglifos da Peseta do coração… todos os segredos se farão revelados.

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A cada novo alvorecer, a dose diária da palavra bem-posta, do verbo esclarecido, do advérbio contido, do adjetivo banido. O verbo exato prescinde dos prolegômenos.

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Vê, aprende-se primeiro o beabá da audição; depois, se quisermos, os reinos da palavra cairão no nosso colo. E decifraremos ainda melhor o verbo no coração.

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Tudo aquilo não ouvido pelo coração — palavras never more — pelo coração será castigado.

Clauder

Clauder Arcanjo
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