Brasilia viridario pavonem (Pavão de jardim de Brasília) – Tomislav R. Femenick

Tomislav R. Femenick – Historiador, da diretoria do IHGRN

Com o seu leque de penas coloridas e furta-cores aberto, o pavão – uma ave natural da Ásia – sempre atrai a atenção de quantos o veem. Existem duas espécies originais, a azul e a verde, e algumas variedades que foram obtidas através de cruzamentos: a branca, ombros-negros, arlequim, spalding e o sameo. Desde a Antiguidade que o homem admira os pavões e com eles convive. Foram introduzidos na Mesopotâmia há mais de quatro mil anos, são citados no Antigo Testamento, foram levados ao Egito pelos fenícios, chagaram à Grécia pelas mãos de Alexandre, o Grande, e de lá se espalharam pelo Império Romano. No século XIV, eram encontrados na França, Inglaterra e Alemanha. Só os árabes preferem manter distância do pavão, pois o consideram azarento; foi a ave que guiou a serpente, quando essa seduziu Eva e que, por isso, viveria sob praga divina.

Do que se sabe a respeito dos pavões, desde priscas eras, eles são símbolos de status. Dizem que o rei Salomão equiparava o seu valor ao do ouro e da prata. Na Índia de antigamente eram considerados animais sagrados e o castigo para quem os matasse era a morte. Em outras regiões o seu valor era mais prosaico, era uma fina iguaria culinária. Nas cortes medievais europeias, os nobres mandavam servi-lo como “pièce de résistance” de seus banquetes. Eram, também, aves de adorno; era de “bom tom” que os jardins dos palácios reais exibissem o maior número possível deles. O fato é que o pavão sempre foi admirado por homens e mulheres, pois é uma ave muito linda e cobiçada, daí porque está sempre associada ao poder e à vaidade.

Entretanto o pavão também tem o seu calcanhar-de-aquiles, o seu ponto fraco: seus pés são disformes, distorcidos, quase que aleijados, feios mesmos. Destoam da beleza que é formada pelo conjunto do resto dessa ave que parece ter sido projetada e criada pelos deuses. Tanto é que na linguagem popular “pé-de-pavão” que dizer feiúra ou aleijão.

No Brasil há muitos pavões. Aqui essas aves sofreram mutações genéticas que apressaram a sua evolução, de forma que muitas das suas variações perderam as características que as identificavam como aves. Em alguns casos a evolução foi tão radical que os pavões já agem quase como gente e já pensam que são gente.

Esse mesmo fenômeno de evolução genética já havia acontecido com um outro tipo de ave: o peru, ave originária da América do Norte. A evolução do peru deu-se de forma bipolar: os perus masculinos passaram a ser exímios observadores e palpiteiros de jogos de cartas e de sinuca, enquanto que as peruas passaram a pontuar nas rodas da alta sociedade, onde se destacam pelo fato de chamar a atenção para si pelo comportamento extravagante, pelo vestuário, jóias e maquiagem ou, ainda, pelo abuso das operações plásticas. Em tudo elas são histriônicas, ridículas e bobas.

Todavia são os pavões geneticamente modificados os que mais povoam as nossas plagas; e Brasília parece ter as condições ideais para a proliferação dessa praga. Temos pavões no executivo, no legislativo e no judiciário; pavões ministros, juízes das Supremas Cortes, políticos de todas as matizes, jornalistas, artistas de todas as artes e até gente do povo. O exemplo maior é um ex-presidente que evoluiu de migrante nordestino pobre para pavão deslumbrado com o poder e os frutos do capitalismo.

Basta acenderem as luzes dos refletores dos noticiários das TV’s, ligarem os gravadores das emissoras de rádio, aparecer um flash de um jornalista ou dos blogueiros, os pavões se emplumam, começas a falar sobre tudo e um pouco mais, principalmente sobre o que não devem dizer nada. O problema é que os pavões não têm a tecla do “semancol”, não se apercebem de situações constrangedoras, e, assim, cometem gafes uma atrás de outra. Mas para eles o importante é aparecer, serem citados nos noticiários. Exemplos temos carradas deles, principalmente nas últimas semanas.

 

Tribuna do Norte. Natal, 13 maio 2017.