Análise – Será que o resultado da eleição no RN significará um tiro no pé do próprio estado?
Postado às 04h37 | 09 Out 2018 no http://blogdoneylopes.com.br
O Rio Grande do Norte assistiu no último domingo, a maior transformação na política potiguar neste século.
Famílias tradicionais e grandes partidos que se revezaram no poder há décadas foram afastados pelo voto popular.
Viraram nanicos.
Partidos e figuras referenciais da política norte-rio-grandense sofreram derrotas eliminatórias, como José Agripino, Garibaldi Alves, Geraldo Melo e o PSDB.
Assumem protagonismo, o PT e o PDT, siglas de pouca influência local.
No vácuo aberto pela rejeição aos políticos tradicionais ascenderam forças antes periféricas, ou coadjuvantes.
No legislativo, os grandes partidos definharam.
O PSDB não fez um único deputado federal.
O MDB diminuiu a bancada.
O DEM ficou de fora.
Todos viram o sucesso de estranhas candidaturas de representantes emblemáticos da antipolítica, do combate à corrupção, do combate bruto à criminalidade e de afirmação moralista.
Deu-se o fim de um ciclo, que definitivamente acabou.
Ninguém sabe o que nasceu.
O desastre da transformação dos partidos em “propriedades privadas”, a serviço de familiares, se expressa nos resultados vistos no RN.
No segundo turno, se enfrentam PT e PDT, que formaram alianças para a disputa de 2018.
O PT é o partido que mais sucesso alcançou nas urnas locais: elegeu uma senadora (em coligação) e dois deputados federais, até agora.
O PDT mostrou força na cidade de Natal, o que credencia o seu candidato no segundo turno como prova de que é bom administrador.
Porém, tanto PDT quanto PT terão dificuldades nos palanques do segundo turno.
Os petistas com a violentíssima “onda” anti-Lula, perdendo o direito de posar como se tivesse superioridade moral ou capacidade para governar o estado e o país.
Ficou a marca da corrupção e inconsequências políticas, contra a qual terá que lutar nas urnas.
O PDT traz consigo o ônus do tradicionalismo da política do RN, com o timbre da família Alves, buscando manter-se no poder.
Entretanto, o candidato, Carlos Eduardo, mostra autonomia, na medida em que na sua biografia constam atos de rebeldia contra essa oligarquia familiar, quando se afastou do grupo e apoiou Wilma de Faria, seguidora de Miguel Arraes, em época passada.
A verdade é que terminou um ciclo da política do estado do Rio Grande do Norte.
Tudo que vier será novo e desconhecido.
O eleitor optou pela mudança, de forma total e absoluta, sem medir os riscos de escolhas para cargos da maior relevancia, de nomes sem curriculum político e sem a expeeriência que a função exige.
O caminho foi o de “aventurar” radicalmente, contrapondo-se a regra de que “na natureza (como na política) não se fazem saltos”.
A regra seria obedecer às etapas graduais de ascensões à cargos e mandatos públicos.
Mas não foi assim.
Com a ausência desse princípio de bom senso restará aguardar: se der certo, tudo bem.
E se não der?
Fica a dúvida, se o povo, ao “atirar” com as “balas” da moralidade, anti política e contra corrupção, terminará atingindo de morte a própria representatividade e conceito do estado, que passariam a ser um zero a esquerda, por falta de condições dos eleitos.
Enfim: terá sido uma reação sensata, racional, pesada e medida do eleitor?
Ou, atitude emotiva e de mera revolta e indignação com o status quo?
Terá sido um tiro no pé, ou vacina eficiente para afastar o risco das enfermidades que tantos males já causaram ao Estado?
Só o futuro responderá essa indagação!
O autor é Advogado militante; Professor titular de “Direito Constitucional” da Universidade Federal do RN (UFRN); Jornalista, Procurador federal; Deputado federal, durante seis legislaturas.