Allan Kardec: o homem, a missão – Francinaldo Rafael

A literatura espirita é abundante. Centenas de obras estão ao alcance da população tanto em meio físico, quanto eletrônico. Mas como em toda grande conquista se faz necessário jornada bem alicerçada, nessa feita o grande baluarte foi o professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail.

Rivail recebeu educação primorosa desde a infância. Enriqueceu a bagagem com o célebre professor Pestalozzi, na Suíça. Desde a juventude sentiu-se atraído para a Ciência e a Filosofia. Bacharelado em Letras e Ciências, fundou em Paris uma instituição de ensino, onde ministrava Química, Física, Astronomia e Anatomia Comparada. Não cobrava daqueles que não podiam pagar. Publicou uma série de obras na área de educação e várias delas foram integradas ao currículo de estudos da Universidade de França. Era um homem  cético, sem instinto poético, inclinado ao método, a ordem, a disciplina mental. Praticava na palavra escrita e falada, a precisão, a nitidez, a simplicidade, dentro de um vernáculo perfeito, livre de excessos. O filósofo e escritor Camille Flammarion denominou-o de o bom senso encarnado.

Após cinquenta anos de preparação acadêmica e moral, Rivail foi convocado pela espiritualidade para codificar a Doutrina Espírita. Em virtude de ser nome ser conhecido e respeitado pela comunidade científica, optou por assinar como Allan Kardec a publicação da primeira obra – O Livro dos Espíritos – e as subsequentes.

Era um período em que a filosofia através de Hegel, Marx e Engels estabelecia ser desnecessária a alma para interpretação da vida e compreensão do Universo. Florens e Cuvier declaravam nunca haver encontrado alma nas centenas de cadáveres que dissecaram. Moleschot , Büchner e Karl Vogt afirmaram que o Espírito é uma exsudação cerebral. Em meio a tudo isso surge Kardec com uma filosofia comportamental apoiada na força da lógica e da razão, apresentando a preexistência da alma ao corpo e sua sobrevivência a morte, uma ciência resultada de profundo trabalho de investigação fundamentado na experiência, resistente ao descrédito e a perseguição. Tanto que até hoje permanece irretocável.

Allan Kardec em sua gloriosa e desafiadora missão empreendeu trabalho hercúleo. Além de codificar as obras basilares do espiritismo criou a Revista Espírita, primeiro instrumento de divulgação nessa natureza;  fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, primeiro Centro Espírita do mundo; fez várias e longas viagens pelo interior da França, com objetivo de dar instruções e ao mesmo tempo instruir-se, ver as coisas de perto, sondar opiniões, apertar a mão dos irmãos espíritas.

Na definição do Espírito Vianna de Carvalho (psicografia Divaldo Franco-Reflexões Espíritas) “vanguardeiro do progresso, Kardec é o pensador e cientista que mais penetrou a sonda da indagação no organismo das Leis, e ofereceu as extraordinárias lições morais que se derivam da Lei Natural ou de Amor, que é universal, porque promana de Deus, o Criador”.