A Vitória do Incerto

Dia desses li um artigo escrito por Glenn Greenwald no portal The Intercept Brasil que abordava a derrota do candidato Marcelo Freixo para Marcelo Crivella na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro. O principal tema do artigo é a dificuldade da esquerda em se comunicar com aqueles que ela diz defender.

A recém encerrada eleição americana trouxe um alerta para o mundo com o seu resultado: a vitória do candidato Donald Trump, empresário multibilionário que já pediu falência quatro vezes, acusou imigrantes de serem estupradores, fez terríveis declarações contra islâmicos, negros, mulheres e hispânicos. Foi a vitória do politicamente errado.

No Brasil há um movimento que, mesmo ainda minoritário, precisa ser observado com atenção. A extrema direita, tendo no daputado Jair Bolsonaro o principal representante, tem despertado cada vez mais interesse. Bolsonaro já homenageou torturadores e chegou ao ponto de dizer que a deputada Maria do Rosário não merecia ser estuprada porque era muito feia.

A humanidade vive ciclos, a sociedade é mutante de acordo com o tempo. Por causa da velocidade da informação, os pensamentos extremistas estão sendo potencializados. É isso que mostra o trabalho de Cass Sunstein, que resultou no livro “A Era do Radicalismo”, onde demonstra com exemplos como pensamentos parecidos se potencializam nesse novo contexto.

A crise iniciada no mercado norte americano em 2008 fortaleceu o discurso de extrema esquerda daqueles que  consideram o capitalismo o demônio em forma de organização social. Com isso, vieram também os que não são tão contra o capitalismo assim. Junto com esse debate, que se tornou estéril, veio o ódio de gênero, religião, cultural, orientação sexual e assim por diante.

Desde que Marx falou na exploração do homem pelo homem, criticando o capitalismo (as relações de trabalho existentes à época que, de fato, eram quase de escravidão), o mundo viu surgir regimes comunistas (em sua maioria terminaram se tornando ditatoriais) e uma parte da sociedade que se achava no direito de qualquer coisa para defender “o povo” contra os capitalistas.

O extremismo não é solução. A verdade de um pode não ser a verdade do outro. E a verdade de A não significa que a verdade de B está errada. O mundo precisa de mais diálogo, de mais respeito, de mais tolerância. As verdades de cada um não dão o direito de agredir ou diminuir a outra parte. O crescimento da extrema direita é preocupante, como também o seria o da extrema esquerda.

Marcelo Freixo diz que quer defender o povo pobre das garras da elite, mas venceu apenas na Zona Sul carioca, onde estão os mais abastados da capital fluminense. O discurso misógeno, racista e xenófobo de Donald Trump não impediu que imigrantes e negros votassem nele nem impede que Jair Bolsonaro tenha considerável apoio de pobres e ricos brasileiros com discurso parecido.

Não se pode ignorar a complexidade do pensamento humano. A esquerda e a direita precisam compreender que suas ideias não são necessariamente as certas ou as erradas, mas, principalmente, que são pontos de vista que precisam ser debatidos com todas as alas. Respeitar os divergentes e seus direitos, para talvez respeitar e conquistar mais apoiadores.