A triste arte de falar para si só

A Modernidade (líquida ou não), nos legou um fenômeno que remete à natureza de seu individualismo: o falar para si mesmo apenas. Fazemos isso o tempo todo – eu, por exemplo, neste texto que poucos lerão, estou fazendo isso – e, com bastante pertinência, não escutamos o outro quando “buscamos” dialogar.
Não é à toa que os celulares atuais, minicomputadores interativos, cheios de aplicativos de redes sociais são a tônica da solidão e do ultraindividualismo: se você não quer falar com ninguém, pegue o seu aparelho e se contente com si mesmo e com seu próprio ego. Fácil e ao toque dos dedos das mãos.
Estamos mergulhados não apenas em uma sociedade do consumo, onde o outro, objetalizado e transformado em algo para ser consumido (usado como mão-de-obra ou como mercadoria outra), é esquecido e não escutado.
Somos as verdadeiras górgonas contemporâneas onde, ao invés de transformarmos em pedra quem nos vê, já nascemos petrificados, surdos, mudos e cegos. Solitariamente nos convertemos em apêndices das máquinas e dos padrões de consumo que mudam com a velocidade da luz. Quiçá até mais rápido que isso.
Por várias vezes tentei me rebelar contra tudo isso: Facebook, Wathsapp, Twitter, etc. Retornei apenas para sentir-me mais só e mais triste ainda. Retornei para um vazio que não está apenas nessas ferramentas, mas como bem lembraram os Padres do Deserto, lá longe há mais de mil anos, em mim mesmo. Citando o grande teólogo alemão Anselm Grün, “precisamos da paz interior para sermos nós mesmos(as) e estarmos de bem com o nosso íntimo. Só assim é possível uma vida humana verdadeiramente digna”.
As pessoas nunca estão sós consigo mesmas porque isso implicaria olharem para o profundo vazio de suas vidas e de suas existências. O silêncio assusta, por isso estamos envoltos de um barulho que não cessa pois ele esconde a verdade da nulidade de nosso devir.
Nos voltamos para a vida dos outros e a sua banalidade existencial nos completa, pois nos lembra como somos também banais e superficiais. Esquecemos a comunidade e nos trancamos em “grupos” eivados de inveja e disputa. E ainda chamamos essas pessoas de “amigas”. Talvez, apenas talvez, as gerações futuras vejam o poço sem fundo depressivo e vazio em que estamos nos afundando. E aí, talvez, apenas talvez, haja esperança de retomarmos o espaço publico e, com ele, uma sociabilidade e uma socialidade real e digna de ser vivida.
Até lá, estamos no deserto do real.