A Pesquisa faz a história – Wilson Bezerra de Moura

É verdade. Quem não viveu o passado vale-se do presente para rever os fatos antigos e traduzir a imagem histórica revelada.

O professor, historiador e pesquisador Deífilo Gurgel, areia-branquense da gema, foi para nossa história um marco da sabedoria, presidente da Comissão Estadual do Folclore, do IBECC – UNESCO, nos legou um rico cabedal de conhecimentos populares, extraindo de fontes autênticas do amadurecimento folclórico de uma gente.

Em suas pesquisas em Vila Flor conheceu uma figura marcante da região, a quem firmou seu alucinante estudo de sabedoria popular, dona Maria José Mendes. Descoberta casualmente, porque o alvo preferido no momento era dona Josefa Germano, Zé Cão, pessoas tradicionais da região, que não estavam na cidade, mas se depararam com dona Maria José Mendes, daí travaram-se no estudo conclusivo para a edição do Atlas Folclórico do Rio Grande do Norte.

Enfim, a história pode ser feita de surpresa. O encontro com dona Maria José transformou-se numa fonte de conhecimento folclórico para o professor Deífilo Gurgel. Dona Mariquinha, como era chamada por todos, nascida em Vila Flor em 19.03.1942, falecia em 10 de janeiro de 1996. Durante toda sua existência, mesmo sendo cega, deu irrestrita colaboração cultural popular.

Mulher de voz privilegiada, a região inteira se cala para ouvi-la, encantando todos, resgatava não só com sua voz a tradição de um povo que antes dela dispensava as atenções. Cega desde o nascimento, participava, mesmo assim, de atividades políticas na região.

O nome de dona Maria José de Vila Flor foi lembrado por Deífilo Gurgel para o coordenador do II Seminário de Literatura do Povo, quando da realização da UFRN para incluir na programação das cantigas de lapinha em seus romances medievais.

Deus não deu a dona Mariquinha os olhos, mas o privilégio de uma inteligência e voz para contribuir com evidência perfeita à sociedade que pertencia até o final sua vida, aos 54 nos, deixando para a história sua contribuição, segundo consta um exemplo de amor à vida.