A Cigana Marlene – Wilson Bezerra de Moura

Certo dia comentamos sobre grupamentos de pessoas chamadas de ciganos. São eles, em verdade, aglomerado de pessoas nômades que em qualquer época do ano fixam-se numa determinada região, levantam suas tendas, formam sua morada e passam a viver à margem da sociedade, com esta misturando-se, mantendo contato apenas para angariar recursos para extrair daí a sobrevivência. As mulheres danam-se pelas ruas afora sem destino certo, lendo a mão de quem encontrar, convencendo-as a se fazer entender de sua futura sorte. Já os homens procuram ganhar dinheiro à custa de venda de animais ou por outra trocá-los, seja lá com quem for, mas que deixe um certo saldo, que é desse que ele sobreviverá.

Os ciganos vieram de longe, segundo informações que colhemos do arquivo de Raibrito. Vieram da Índia, da Pérsia, do Egito, percorreram terras por este mundo afora e no Brasil deram as boas, espalharam-se por muitas localidades, inclusive a nossa região foi, durante décadas, palco de muitos conjuntos, uns conquistando sucesso em suas atividades, outros não tiveram a mesma sorte, sofreram as adversidades da vida.

O caso da cigana Marlene da Silva, que se tem notícia, é uma situação de piedade. Perdeu o contato com a família. Assim se desligando do grupo, passou a ter uma vida dificultosa, mãe de dois filhos, criando ainda um neto, continua por lugares incertos com vida nômade para conseguir a sobrevivência, se valendo da ajuda popular para se manter e manter sua família, dessa feita fora do grupo. Ela se tornou uma pedinte de rua, sem a ajuda do grupo a que pertencera.

A cultura racial e ideológica de vida de cigano difere um pouco do comportamento da sociedade, bem diferente, por exemplo, quanto a criança masculina, sempre bem-vinda entre os ciganos, por ser esta construtora da sociedade, o que não acontece com a criança feminina, porque esta, ao nascer firma compromisso com o casamento, isto é, logo lhes é assegurado um futuro mundo, o que, decerto, não é procedimento livre e espontâneo.

Outro aspecto que difere da sociedade civil é quanto à morte. Creem na vida após a morte, tanto assim que colocam no caixão do morto uma moeda com o fim de que paguem ao canoeiro que o transporta na passagem de uma coisa a outra, isto é, da vida e da morte.