Em turnê pela Europa, Gilberto Gil celebra reencontro com raízes galegas

Gilberto Gil se prepara para celebrar o reencontro com suas raízes galegas durante a turnê europeia ‘OK OK OK’, que começa nesta sexta-feira em Viena (Áustria) e que no próximo dia 17 chegará a Vigo, na Galícia, região da Espanha de onde se originou seu sobrenome.

“Galícia, Vigo… tem um significado pessoal e particular, porque é a cidade de onde vem o meu sobrenome. Boa parte dos meus antepassados são de lá”, disse Gil em entrevista à Agência Efe.

Filho de um médico descendente de escravos e de uma professora primária, o cantor completou 77 anos em junho e, desde muito cedo e com o apoio dos pais, teve contato com a música.

Apesar da herança africana na música e da brasilidade que sempre defendeu, Gil reconhece seu lado espanhol, e por isso não esconde a felicidade em voltar a Vigo este ano como parte de uma viagem que também marca seu retorno aos palcos e à composição.

“O público espanhol tem um carinho muito grande pela música brasileira, pelos artistas brasileiros. Isso é visto com força em Madri e Barcelona, mas cidades como Vigo também não serão exceção”, ressaltou.

‘OK OK OK’ é o nome da turnê e do álbum de número 67 da sua carreira – entre coletâneas, discos ao vivo e de estúdio -, o primeiro com canções inéditas depois de oito anos de silêncio, por conta principalmente da convalescença que viveu em 2016.

“O trabalho reflete minha situação mental atual com relação ao período que passei por causa da doença. O disco reflete isso e trata direta ou indiretamente desse assunto”, contou Gil, que garantiu que depois de superar os problemas de saúde não tem mais “medo” de expressar nas canções esse capítulo da vida.

De acordo com o compositor, a nova turnê, que passará por 20 cidades europeias, repete e reitera uma fórmula de anos.

“Sempre que lanço um disco ou um trabalho novo faço um tour pela Europa e desta vez a escolha das cidades se deu por convites. Dependemos dos convites”, explicou.

Sobre a nova safra da música brasileira, o compositor e multi-instrumentista ressaltou a diversidade.

“Tenho a impressão de que o leque de artistas novos, recém-surgidos, é muito grande e vasto. Há rapazes e moças, jovens adolescentes, que se dedicaram aos gêneros que se derivam da origem da música brasileira”, disse, explicando que, mesmo com “transformações e adaptações”, todos eles mantêm ingredientes da expressividade brasileira de forma muito clara.

Além disso, para Gil, a “interação” entre o espanhol e o português através da música é muito benéfica.

“Há um crescimento muito forte do espanhol como veículo de fusão. As músicas colombiana, mexicana, argentina, cubana, porto-riquenha tiveram um crescimento muito grande no mundo inteiro, e nesse sentido a língua espanhola é predominante na difusão de música popular”, avaliou.

Sobre a gestão cultural do governo do presidente Jair Bolsonaro, o cantor considerou que existe uma “visão muito particular sobre políticas públicas, incentivos e articulações”.

“Os governos anteriores mostraram um interesse um pouco maior em estimular a vida cultural, o teatro, o cinema, as artes plásticas, os museus. Esta administração é um pouco mais reticente, mais reservada, mas temos que esperar porque está no início”, acrescentou.

Gil, por sua parte, se mostrou aberto a levar a outros países a sua experiência como músico consagrado e ex-ministro da Cultura.

“É sempre possível que isso aconteça. Não tenho convites, mas se for preciso estender o trabalho intenso de divulgação eu estenderei, como já fiz na Argentina ou para replicar os pontos de cultura na Colômbia. Posso levar essas informações por toda a América”, destacou.

A turnê, que vai até 13 de agosto, passará por países como Alemanha, Suíça, Bélgica e Portugal.

Waldheim García Montoya.

 

Agência EFE